quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Onde estão as palavras?

Ao olhar para as crianças em silêncio sentadas diante de mim, esperando pelas minhas palavras, pensei: onde estão as minhas palavras?




Durante a Feira Literária de Caraguatatuba, diante de crianças de nove anos, fiquei calado por alguns instantes. Estava ali para dar uma palestra sobre literatura, mas tudo o que havia em minha mente era o rosto de um menino chamado Hikaru. Um rosto que eu procurava entre os rostos daquelas crianças. Pensava em como ele estaria ali "não" prestando atenção na minha palestra, levantando-se, conversando (como ele gostava de conversar!), brincando, tudo, menos parado ali, me escutando.
Foi então que parei de dar palavras que não estavam mais comigo, e falei sobre o que estava em meu coração: o silêncio de Hikaru.
Quando falei de como levei o menino para ver o pôr-do-sol, em sua cadeira de rodas, as crianças choraram. Sim, crianças gostam do pôr-do-sol. E eu pensava em como deve ter sido aquele pôr-do-sol para ele, antes que a luz fosse apagada (por um momento aqui na Terra, tudo ficou escuro).

_ Mamãe, por que você apagou a luz?
A mãe chorou, ela não havia apagado luz alguma...

Logo após a minha última palestra na FLIC, peguei a estrada e percorri centenas de quilômetros para a missa em memória a este menino, que partiu com apenas nove anos. 
Passei uma semana em Guatapará, conversando com as pessoas que o conheceram. E foram tantas. Todas elas disseram o quanto ele era (e é) especial. Na câmara municipal da cidade, foi proposto dar o nome de uma creche ao menino, tão querido ele era. Um homem com câncer, o mesmo câncer que levou o menino, pediu baixinho durante uma noite de dor, força ao menino. O padre disse que ele era um santinho (e todos que o conheciam disseram que ele era o mais arteiro dos meninos... um anjo arteiro?)...
E eu perdi todas as palavras que me restavam quando vi as lágrimas da mãe desse menino, a minha prima, do pai, dos meus tios, de todos os que conheceram o menino... para onde minhas palavras teriam ido? Conversar com ele em algum lugar? Que lugar?
Há sete anos, eu peguei uma criança de apenas dois anos em meu colo. Foi a primeira vez que eu me dei conta de como era brilhante aquele sorriso... que o acompanhou até o último instante. Mesmo com dor, o menino sorria. Algo que eu não consigo explicar. Como sorrir com dor? Só havia amor naquele sorriso.
Isso havia sido logo após a minha viagem que inspirou o livro "Além do Horizonte". Onde está essa criança agora? Além do horizonte também?

Palavras, por favor, voltem para mim, para que eu possa contar a história de um menino que inspirou não apenas a sua família, mas a todos que o conheceram... e foram tantos... e deveriam ter sido muito mais, pois o sorriso desse menino... Isso nunca, nunca deveria se apagar. 

Sonho com o livro de Hikaru, que em japonês significa: brilho, luz...

Ele ainda brilha entre nós...







sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Sonhando com o céu

Há quatro anos eu vivia um dilema. Continuar o meu sonho ou deixá-lo para trás para viver a realidade? Não seria um dilema, se a realidade fosse ruim, pois isso me faria lutar pelo meu sonho, para tentar viver uma vida melhor. O fato era que a realidade era boa. Afinal, eu havia encontrado a mulher da minha vida e com ela vivia, modestamente, em uma alugada casinha de fundos. Vivia feliz. Porém, quem pagava o aluguel? Ela. Pude pagar apenas uma única vez... O que me incomodava era que eu estava voltando a uma situação terrível: deixar o peso do meu sonho nas costas das pessoas que eu mais amava. Não era justo. Via minha esposa trabalhar com grande dificuldade, e sem reclamar, para manter a nossa realidade feliz. Se ela não tivesse que trabalhar tanto, não me importaria, o meu sonho não seria um peso. Além do mais, o trabalho doméstico é tão digno quanto o trabalho fora de casa. Afinal, admiro muito minha mãe, o trabalho dela, de cuidar dos filhos em casa, se chamava simplesmente amor. 
Antes de morar com minha musa, eu morava em uma sala de aula de uma escola de inglês de um amigo, que ainda me dava uma grana por ajudá-lo nas aulas, recepção, limpeza, etc. Escrevia minha primeira obra no longo intervalo entre as poucas aulas que eu dava. Mesmo assim, não consegui publicar meu primeiro livro (não tentei o suficiente) e apenas o fiz por presente de meu padrasto, em 2008. Aceitei, pois o livro era dedicado postumamente ao meu grande amigo Felipe e lançado no dia do seu aniversário. Lancei outro em 2009, dedicado à minha musa. Queria devolver o dinheiro, apesar da recusa do meu padrasto em aceitar. Com insistência, consegui devolver apenas 6 mil reais dos 8 mil que foram pagos para publicar os dois livros (e ainda cometeria o erro de empenhar mais 8 mil para mais duas publicações!) A minha literatura estava dando um grande prejuízo... 
Enfim, mudei-me para Jundiaí em 2009, quando passei a morar com minha musa. Escrevia dia e noite, mas escrever não pagava contas. Foi então que fiz uma promessa: "Se não ganhar dinheiro com minha escrita até o final do ano, desisto do meu sonho de viver de literatura". Em meados daquele ano, a professora Neizy Cardoso, à época diretora da Biblioteca Prof. Nelson Foot, entregou-me um panfleto da 5ª Olimpíada de Redação. Ela me incentivou: "escrever é fácil, e você ainda pode ganhar prêmios em dinheiro". As palavras finais do tema não poderiam ser mais propícias: "Ano Internacional da Astronomia: Descobre teu Universo". Será que eu descobriria o meu? Sim, escrever era fácil, difícil era ganhar dinheiro com a escrita...
Comecei a participar de vários concursos literários, divulgados na comunidade CL do Orkut. Muitos com prêmios em dinheiro! Cheguei a conquistar o segundo lugar no tradicional "Prêmio João-de-Barro". Se tivesse ficado em primeiro, ganharia 16 mil reais... Não ganhei. Fiquei em segundo lugar no belo "Prêmio UFF de Literatura". Dinheiro? Nenhum. Apenas a alegria de ter o trabalho reconhecido. O ano estava acabando e eu ainda não tinha ganhado um centavo com a escrita...
Minha última chance estava no prêmio da Olimpíada de Redação. Os doze premiados da minha categoria foram sendo chamados. Apenas os três primeiros ganhavam prêmios em dinheiro; e eu que desejava tanto que todos os doze fossem premiados com dinheiro! Dependia disso o meu futuro. Rezei, pedi fervorosamente a Deus para que eu ficasse em terceiro! O quarto colocado... não era eu. O terceiro... não...  Não podia culpar Deus pelo meu fracasso. Foi um balde de água fria. Meu coração já não aguentava mais e quando o segundo colocado foi chamado... levantei-me! Não, eu não era o segundo, estava abandonando o amplo auditório, resignado, dirigindo-me à porta de saída. Não suportaria ouvir outro nome que não o meu. Já antevendo esta situação, quis ir sozinho, não queria que me vissem triste. Quando já estava próximo da porta, de costas para o palco, ouvi o meu nome ecoando pelo salão...
E ninguém da plateia poderia imaginar que as lágrimas e o sorriso eram muito mais do que a conquista de um primeiro lugar. Se tivesse ficado em terceiro, como eu havia desejado, a reação teria sido a mesma. O que importava era ganhar qualquer quantia em dinheiro, porque eu não poderia quebrar a minha promessa! Aquilo era muito mais do que uma vitória. Era a descoberta do meu universo! O título da minha redação era "Sonhando com o céu". O meu sonho era o céu literário! Ficção? Terminava assim meu relato: "é possível afirmar que se o homem não tivesse sonhado com o céu, nunca teria chegado tão longe... aqui na Terra". Ganhei dois mil reais. 
Hoje, vivo da escrita. E não há homem mais feliz ao pagar uma conta! 


***

Por que escrevo isso hoje? Quatro anos após aquele dilema, eu vivia outro: para qual premiação literária ir? 
Um ano após receber meu primeiro dinheiro com a escrita, em 2010, meu segundo livro era um dos premiados na categoria crônicas, recebendo o Prêmio Paulo Mendes Campos, da conceituada União Brasileira dos Escritores no Rio de Janeiro, em uma cerimônia a ser realizada na Academia Brasileira de Letras! O meu primeiro livro a receber um prêmio! Por isso, uma premiação muito querida por mim.
Pois bem, dia 25 de outubro de 2013: ir à cerimônia da 9ª Olimpíada de Redação em Jundiaí, em que eu sequer sabia se seria ou não premiado, ou a outra cerimônia da UBE-RJ na Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro, para receber dois prêmios: Prêmio Ganymédes José (literatura infantil) e Prêmio Humberto de Campos (categoria livro de contos)? 
Não parece um grande dilema, já que era certo que eu era um dos vencedores na UBE-RJ, e era bem incerto (e improvável para mim) estar na sigilosa lista de premiação da Olimpíada, segredo que eles guardam a sete chaves!
O que me passou pela cabeça foi o puxãozinho de orelha que recebi por ter ficado em terceiro lugar na mesma Olimpíada de Redação em 2011... e não ter comparecido à cerimônia. O pessoal da biblioteca havia ficado um pouco chateado com isso. (Olha aí, o meu desejo sendo realizado, queria mesmo ter ficado em terceiro lugar em 2009 - antes de descobrir que eu era o primeiro, claro. A verdade é que não queria abusar pedindo pelo primeiro lugar).
Em 2010 e 2012, compareci à cerimônia e não fui premiado, e confesso que não imaginava ser premiado em 2013, afinal, a Olimpíada já havia realizado tudo o que eu havia pedido em relação a ela! Ou não?
Em 2013, curiosamente, mudaram o regulamento e atenderam ao meu desejo lá de 2009: que todos os doze finalistas fossem premiados com dinheiro. E não é que eu fiquei em oitavo lugar? Nunca um oitavo lugar foi tão comemorado! Sorri, pois imaginei que realmente havia acertado em comparecer à cerimônia, pois o pessoal da biblioteca comemorou comigo e eu mais ainda com eles. 
Só que a surpresa não acabou aí...
Quando olho para o pacote de livros que os vencedores ganharam como parte do prêmio (além do dinheiro), o que vejo?
O meu livro "Palavras de Areia", premiado por quem? Pela União Brasileira dos Escritores - RJ! 
E pensar que há quatro anos eu estava a um passo de desistir... 
Há quatro anos, eu nunca poderia imaginar que um livro de minha autoria faria parte do próprio prêmio que me levou a continuar a acreditar no céu literário! 
Four!, como diria meu amigo Felipe, que sempre acreditou em meus sonhos e a quem dediquei o meu primeiro livro, em algum lugar do céu deve estar sorrindo - e não é que ele estava certo quando disse que eu seria feliz se viesse para Jundiaí?)


Obrigado a todos da Biblioteca Pública Municipal "Prof. Nelson Foot", que por meio da belíssima Olimpíada de Redação publica textos de crianças, jovens e adultos - quantos escritores estão sendo formados por ela! Obrigado à profª. Neizy, a todos da UBE-RJ, a toda minha família, amigos, aos sonhadores da CL... e a minha amada musa, a quem dediquei o texto vencedor daquela salvadora Olimpíada de 2009. 

PS: Em julho deste ano enviei o regulamento ao editor Rodrigo para publicação no blog Concursos Literários, ao qual tenho a honra de fazer parte da equipe. Se você tem o mesmo sonho que o meu, e está meio desanimado, tente participar dos concursos! Vamos compartilhar, para que mais pessoas possam ter a mesma oportunidade que eu tive, de conquistar alegrias literárias graças aos amigos que compartilhavam editais na CL. 
Por favor, se tiver conhecimento de algum concurso literário e quiser divulgá-lo, clique AQUI. Obrigado!

Anote o blog: www.concursos-literarios.blogspot.com.br 

Seja feliz! Abraços!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Crônica do medo - texto vencedor do XII Prêmio FACCAT - Panorama (Categoria Crônica)



_ Você não teve medo?

          Essa foi uma das perguntas mais frequentes que me fizeram, quando voltei de minha viagem de volta ao mundo, passando por cinquenta países em oito meses. Depois, repetiram a mesma pergunta, quando voltei de outra viagem, desta vez, apenas pela América do Sul, só que realizada no estilo carona, dormir na praça e passar fome.
          Medo?
          Quase fui roubado e detido na Rússia, fui abandonado na fronteira tcheca, enganado no Peru, quase atropelado em uma ilha da Indonésia, quase despenquei de uma montanha na Venezuela, enfrentei uma enchente em Honduras, escalei um vulcão ativo na Guatemala, andei mil quilômetros na Espanha, fui ameaçado em Rondônia, dormi em caverna na Capadócia e em albergues de mendigos no Brasil, passei fome no Caminho da Fé, passei frio no Círculo Polar Ártico e calor na linha do Equador...
          Se eu tive medo?
          Sim. Eu tive medo. Tive medo de uma vida sem sentido, em trabalhar em um emprego em que acordasse com um suspiro de desânimo e retornasse para casa com outro de tédio. Tive medo de enfrentar o trânsito caótico de uma cidade para chegar a lugares em que eu não queria chegar. Tive medo de me enforcar com uma gravata todos os dias. Tive medo de abandonar o meu sonho de conhecer o mundo e de escrever sobre ele. Tive medo de viver cotidianos, de ver o mesmo dia se repetindo todas as semanas e todas as semanas se repetindo em todos os meses e todos os meses finalmente se convertendo em anos e os anos se convertendo em fim. Tive medo de adiar a minha vida.
          Por isso, eu parti. E em cada curva da estrada, em cada momento em que eu não sabia o que ia acontecer lá na frente, eu sorria. E nunca suspirei de tédio ou desânimo, mesmo diante de uma longa e escaldante estrada. Senti o frio ártico em minha pele e me senti mais aquecido do que nunca, pois é melhor sentir o frio na pele do que frio no coração. Senti o calor equatorial e suei todos as minhas frustrações, que se escondiam debaixo dos meus poros. Fui enganado, sim. Mas não perdi a confiança em mim. Fui abandonado, sim. Mas não abandonei a minha fé. Fui ameaçado, sim. Mas não ameacei desistir do meu sonho. Senti fome, sim. Mas nunca deixei de sentir a minha alma alimentada.
          Se eu não tenho medo agora?
          Tenho medo e sempre quero ter medo.
          Agradeço ao medo. Foi ele que me fez ter a coragem de enfrentar outros medos. A verdade é que não há medo maior do que não ter medo de nada. Pois o medo nos desafia a enfrentá-lo. Quem não sente medo, contenta-se com a segurança do cotidiano, dos pratos de mesmos sabores, dos bom-dias sem calor.
          Sinto medo de não ter medo. Medo de ter coragem de viver uma vida sem sobressaltos, sem riscos, sem desafios...
          Quero ter medo!

          Quero, sobretudo, ter medo da morte, para ter coragem de enfrentar... todos os medos da vida.







Obrigado aos organizadores deste belo prêmio, a todos da FACCAT e do Jornal Panorama. Vocês garantiram o pagamento da minha conta de luz para este ano e para o ano que vem inteiro! Se bem que medo de escuro eu não tenho... Mesmo assim, muito obrigado!!!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Barco a Vapor


Com Marcílio Godoi (vencedor 2012) e Isabela Noronha (vencedora 2013)! Estou muito honrado de estar com estes dois campeões do Prêmio Barco a Vapor! Foram cerca de 1300 concorrentes na edição deste ano, e estar entre os dez finalistas me deixou muito feliz! Agradeço a todos os que torceram por mim (desculpem-me por não ter ganhado, rs)  mas tenho a certeza de que o prêmio está em ótimas mãos! Muito obrigado a todos da SM, por me permitir viajar um pouco neste barco também! Foi uma festa emocionante! Parabéns, Isabela Noronha! Parabéns a todos os finalistas!




Hoje (um dia após a premiação do Barco a Vapor), vi a lista dos vencedores dos prêmios da UBE-RJ. Fiquei em segundo lugar no Prêmio Ganymédes José com a obra "Papel de Bala" e também em segundo lugar no Prêmio Humberto de Campos com a obra "Contos do Sol Renascente" (com direito a Menção Especial!). Tá difícil ficar em primeiro, mas estar entre os premiados já me deixa muito feliz! Isso é ótimo, pois me faz lembrar de que sempre é possível melhorar! É por isso que estou nesta viagem literária, para aprender a escrever cada dia um pouco melhor. E tenham a certeza de que estarei no porto, tentando embarcar no próximo Barco a Vapor! Quem quer embarcar? Vamos lá! Boa viagem pra todos nós!




Casa de Mark Twain - "pai" das "Aventuras de Tom Sawyer" - inspirador do nome do Prêmio Barco a Vapor!  A caminhada continua, a aventura das letras não tem fim! Até a próxima!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cataratas literárias: Feira Internacional do Livro e meu almoço com João Gilberto Noll

Há dez anos, eu cruzava a fronteira em Foz do Iguaçu. Retornava de uma viagem por 50 países, com uma única coisa na cabeça:  escrever um livro sobre minhas aventuras pelo mundo... A ideia era realizar o meu sonho de ser escritor.



Não foi tão simples assim... Quebrei a cabeça (e o coração), briguei com meu pai, um relacionamento terminou, perdi o meu melhor amigo... Foi uma dura lição para aprender que, para ser escritor, não basta ter coisas para contar... Tem que ter coração para contá-las.
Hoje, revi toda a minha trajetória. Dez anos depois, aqui estou eu, na programação da Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu, com grandes escritores como Ricardo Lísias, e tendo até conversado com veteranos como Ivan Jaf, Jorge Fernando dos Santos e tendo sido recepcionado no aeroporto junto com a Drª Ana Beatriz, autora de Mentes Inquietas. Estava me sentindo encantado com a experiência. Estava sendo tratado como escritor. Sonho realizado? Achava que sim. A minha palestra tinha como tema "Viagens literárias: quando a realidade ultrapassa a fronteira da ficção". Porém, na hora da palestra, esqueci tudo...
Bem, esqueci por uma razão justa: um almoço com o grande escritor, que muito admiro, João Gilberto Noll. Quem acompanha este blog sabe o quanto sou um babão quando encontro os figurões da literatura. Não sei o que é, mas é algo que supera a admiração. Sei lá. Por isso, acho que quando visito escritores "imortais", em seus túmulos ou museus, passo menos vergonha...



João Gilberto Noll conversou comigo pacientemente durante o almoço. Eu nunca havia conseguido me abrir tanto com um grande nome da literatura. Geralmente balbuciava algumas palavras e pronto. Mas com João Gilberto, eu me soltei. Falei tudo o que estava em meu coração, este coração que sempre sonhou em ser escritor. Foi, por isso, que mudei minha palestra. Tinha planejado falar coisas mais "sérias" sobre a literatura. Porém, não estaria sendo sincero com o público. Na hora, falei o que estava em meu coração...
Ao final... João Gilberto Noll me cumprimentou e ainda gentilmente disse que havia gostado da minha palestra. Graças à Deus que eu não o tinha visto na plateia! Teria perdido a voz!
João Gilberto Noll tinha chegado hoje à Foz. Estava cansado. Pouco depois de minha palestra, retornou ao hotel para descansar... Ele havia dito que "tentaria ir à minha palestra". Claro que eu pensei que ele não iria. Cinco vezes vencedor do Jabuti, autor de livros incríveis, um dos principais nomes da Feira Literária da qual eu era apenas coadjuvante... Mas ele foi. Foi porque disse que tentaria... e não apenas tentou, mas foi.
Fico agora pensando no coração de João Gilberto Noll. Foi a uma palestra de um aprendiz de escritor... Mesmo tendo sido eu o palestrante e ele o ouvinte, posso afirmar que quem ensinou foi ele, sem dizer uma única palavra. Apenas com sua presença na plateia, ele me ensinou a humildade necessária para quem quer se tornar um grande escritor. Ele me ensinou a manter o coração simples... Obrigado, João Gilberto Noll!


PS: Nesta semana, também dei duas palestras em escolas de Caraguatatuba-SP (Lippi e Instituto Dinâmico), a convite do meu amigo prof. Maurício. Foi uma experiência muito legal também, me receberam muitíssimo bem! Uma coisa bem legal foi um aluno, que ficou rondando os meus livros. Levei alguns exemplares para vender. O menino estava sem dinheiro. Ele me perguntou: "Posso te pagar com um cd da minha mãe? Ela é cantora"... Lembrei disso porque João Gilberto Noll me disse que, antes da literatura, seu sonho, sua paixão era a música. Por isso me lembrei do garoto na escola e fiquei pensando na beleza de se pagar literatura com música...  e como ambos são parecidos. Afinal, João Gilberto Noll é, além de um grande escritor, um grande músico. Penso assim porque, com sua literatura, ele toca sinfonias inesquecíveis nos corações de seus leitores. Sei lá se estou "viajando", se uma coisa não tem nada a ver com a outra, só sei que estou mais do que feliz aqui em Foz do Iguaçu... É, estou viajando... e viagens sempre me deixam assim, com um sorriso no rosto.


Agradeço a todos que me receberam tão bem aqui em Foz: A Arinha e Kelly, que me convidaram para dar a palestra aqui, a todos da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, que pagaram pela minha passagem aérea, alimentação e estadia, ao Alexandre, a Maria Emília, Sr. Carneiro, Mapê, o Sr. Júlio e Sr. Érico, motoristas que me conduziram por aqui, a Christianne que me levou para as cataratas, a todos da Biblioteca Pública de Foz do Iguaçu, Marisete Zanon, Jeane Hanauer, Nilton Bobato, a todos da Academia de Letras de Foz do Iguaçu e a todos os que foram à minha palestra, ah! a todos de Foz do Iguaçu! Muito obrigado também a todos do Lippi e Instituto Dinâmico de Caraguatatuba. Foi uma semana muito especial para mim! Um grande abraço!

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cidade Canção






Engraçado dizer isso, mas eu não queria ser rico e poderoso. Afinal, orgulho-me dos meus passos simples por esta terra. Gosto de ser pobre. Não gostaria jamais de perder essa simplicidade, de me alegrar com as pequenas coisas. Mas depois que visitei Maringá, ao lado de tantos talentosos escritores, poetas e trovadores, por ocasião do VI Encontro Literário “Cidade de Maringá”, mudei de ideia. Ficamos impressionados com a beleza desta cidade. Por que ela era tão bela assim? E por que ela é conhecida como Cidade Canção?
            Já na chegada, fomos recebidos por Jeanette e pelo empresário Alberto Paco, que nos conduziu em um luxuoso carro ao imponente Hotel Bristol Metrópole, onde fomos recebidos pela amável Eliana de Palma (até há pouco, eu não sabia que ela era a dona do hotel). Tomei café da manhã com o presidente da Academia de Letras de Maringá, Ademar Schiavone, e com o acadêmico “Nhô Juca”, que antes de se sentar na cadeira à minha frente já havia se sentado na cadeira de Prefeito de Maringá.
            No sábado, após emocionante show de Marcos Assumpção e do lançamento do meu livro, visitamos o belo campus da CESUMAR e fomos atenciosamente recebidos pelo próprio reitor e ex-senador, prof. Wilson de Matos, que nos ofereceu uma aula de cidadania e um delicioso almoço. No domingo, visitamos a Cocamar sendo recebidos por uma de suas diretoras, a  hospitaleira Olga Agulhon. Após a emocionante missa em trovas, de autoria de A. A. de Assis (Patrimônio da Humanidade), foi servido um delicioso almoço. E quem pediu permissão para se sentar à mesa? Luiz Lourenço, o próprio presidente da cooperativa, que faturou 2 bilhões de reais no ano passado.
            Para todos os eventos, fomos conduzidos pelo Transporte Coletivo Cidade Canção, e quem estava ao meu lado no ônibus? O próprio secretário de transportes, Ademar Schiavone, que brincou durante um dos percursos, diante de um congestionamento:
            _ Acho que estão me xingando neste momento.
            O que foi confirmado ao descermos em nosso destino.
            _ A culpa é sua! – disse Olga, em tom de brincadeira.
            A festa em que chegávamos como convidados era a festa de 50 anos da Cocamar, em que estavam presentes vários deputados federais, senadores e até o ministro Aldo Rebelo. Uma festa com um show do grande Renato Teixeira!
            O que dizer de uma recepção assim?
            Apesar de muitas pessoas aqui mencionadas possuírem cargos notórios ou posses consideráveis, todas demonstraram uma humildade, uma gentileza e uma hospitalidade que até fizeram com que eu sentisse vontade de ser rico e poderoso... Só para poder ser como elas! Afinal, se seu estava ali sem gastar um tostão era porque cada uma dessas pessoas havia patrocinado a minha recepção na bela Maringá!
             Sim, aprendi que é possível ser rico e ainda assim não perder a simplicidade e a generosidade (e neste quesito, sempre me lembro de Fernando, tataraneto do Visconde de Mauá, que por quase dois anos me cedeu um tranquilo recanto para escrever).
            Esta não foi a primeira vez que tive o prazer de visitar Maringá. Há dois anos, recebi o troféu “Laurentino Gomes”, do próprio. Sou fã de sua escrita. Ansioso, ensaiava mentalmente como eu iria conversar com ele, sem prestar muita atenção ao casal que descia comigo no elevador. Caminhamos até a Câmara Municipal, onde Laurentino daria uma palestra.
            Ao chegarmos, descubro que o homem que desceu comigo no elevador e caminhou ao meu lado era... o próprio Laurentino! O que mais me impressionou foi a sua simplicidade. Nem parecia o vencedor do Jabuti, um escritor de sucesso! Em outra ocasião, conheci Oscar Nakasato. Ambos escritores vencedores do Jabuti. Ambos humildes. Ambos maringaenses.
            Ao final das festividades, a própria Olga Agulhon nos levou à rodoviária. Na plataforma, ainda recebi um abraço de A. A. de Assis e de sua esposa Lucilla Maria Simas de Assis, que nomeia o troféu que fui receber em Maringá. E quem os conhece sabe que este casal é a imagem da gentileza e da simplicidade.
            Ao nos despedirmos de Maringá, creio que descobrimos porque ela é tão linda. Não é pela pujança econômica, como muitos poderiam especular. Afinal, uma cidade só se torna tão bela assim quando nela vivem pessoas que mantêm em seus corações as notas da humildade e da generosidade. Realmente, uma belíssima cidade canção!





Agradeço a todos os acadêmicos (as) da Academia de Letras de Maringá, a todos os patrocinadores do VI Encontro Literário "Cidade de Maringá" e a todos os escritores, poetas e trovadores participantes, que proporcionaram um belo capítulo em minha trajetória literária (e em minha vida). Só de ver o sorriso de minha mãe (que me acompanhou neste encontro) e da minha esposa (que me acompanhou no encontro anterior) multiplica em mil o meu sorriso (já largo). Muito obrigado!


sábado, 8 de junho de 2013

Fome de Suassuna

Sem tomar café, com fome, dois ônibus, quatro trens e quatro horas depois, consigo, finalmente, um convite para a palestra de Ariano Suassuna em Santo André. A moça avisa: “É melhor chegar cedo amanhã para trocar o convite por um ingresso... Se chegar tarde, alguém certamente tomará o seu lugar”. Quer dizer que eu tinha um convite, mas não tinha? Quatro trens, dois ônibus e quatro horas depois, chego em casa. Acordo no dia seguinte às 4 da manhã. Mais uma vez, saio  com fome e pego dois ônibus, quatro trens e chego às 8:30 em Santo André. Doze horas em condução lotada. Vale a pena esse sacrifício para ouvir Ariano Suassuna?

O auditório, mais lotado que trem na hora do rush, dizia em coro que sim.

Ariano Suassuna não falou sobre literatura, simplesmente declamou... a vida.

Ninguém se deu conta de que três horas haviam se passado! Desculpando-se por ter se estendido pela hora do almoço, despediu-se e foi embora. Só então o tempo voltou a correr. Só que a palestra havia sido tão deliciosa que ainda ficou um gostinho de “quero mais”.

Eu estava com um livro de Suassuna na mão. Queria mais. Queria um autógrafo. Eu não era o único. Érica e Lia queriam o mesmo, uma abraçando o “Auto da Compadecida” e a outra o roteiro da “Farsa da Boa Preguiça e o Rico Avarento”, em que atuou no papel de Clarabella. Poderíamos ter ido embora, satisfeitos com as palavras proferidas pelo imortal Suassuna, que já havia autografado cada coração da plateia. Porém, Ariano havia nos instigado a ousar mais, a sempre buscar saciar a fome de vida!

Queríamos o autógrafo, não queríamos? Então, o simples fato de ele ter ido embora do auditório não deveria nos impedir de satisfazer o nosso desejo. Descobrimos o hotel em que ele estava hospedado. Érica, que tinha acabado de nos conhecer, nos convidou para uma busca por Suassuna em seu carro. Ela disse que a porta amassada do lado do passageiro abria normalmente. Saiu na contramão, sem delongas, e toca pro hotel. Supomos que ele estaria almoçando... Claro, era a hora do almoço!

Na recepção: “Minha amiga está neste hotel e marcou de se encontrar com a gente no restaurante. Só tem esse restaurante aqui?”...

Que mentira! Não vou revelar quem foi quem mentiu, mas acho que Suassuna aprovaria. Durante a palestra, ele havia nos dito que há dois tipos de mentira: a mentira com asas e a mentira com chifre e cauda. A mentira com asas é aquela do tipo de João Grilo e Chicó... Mentira que só faz o mundo mais alegre. Bem, se conseguíssemos os autógrafos, com certeza ficaríamos mais alegres.

Espera, espera, espera... Nada de Suassuna. Lia ligou para seus contatos, para descobrir se ele havia ido almoçar em outro lugar. Liga pra um, pra outro, a ligação está ruim, sai para a rua. Pouco tempo depois, a moça adentra o hotel saltitando de alegria. Será que ela descobriu o restaurante em que Suassuna estava almoçando?

“Ele está no restaurante aqui ao lado!”

Saímos que nem loucos do hotel. Entramos no restaurante, sentamos e ficamos observando, à distância. 

O garçom chega para nos atender. Olho para os preços no menu... Números de fazer perder a fome.

“Estamos decidindo ainda”.

Outra mentira. Nós já tínhamos decidido o que queríamos: Autógrafo de Suassuna ao molho de esferográfica.

Esperamos até o fim da refeição (dele). Quando Ariano saiu, famintos, saímos atrás.

Com imensa gentileza, Suassuna nos serviu os autógrafos quentes. Conversou, fez piada, distribuiu uma generosa porção de carinho... Assim saciou, definitivamente, a nossa fome. Ah! E como a vida de Suassuna é saborosa!




Muito obrigado, Ariano Suassuna! 
Parabéns à Secretaria de Cultura de Santo André, por trazer o imortal para a minha terra natal! 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Palavras de Areia - Já nas bancas de Jundiaí!


Já está nas bancas de Jundiaí e região o livro "Palavras de Areia" em prol do GRENDACC (Grupo em Defesa da Criança com Câncer). 




E no dia 10 de maio de 2013 (sexta) às 19:00 horas, apresentarei o livro na Biblioteca Municipal "Prof. Nelson Foot" - R. Dr. Cavalcanti, 396 - Jundiaí-SP

Você está convidado! 



Matéria no Jornal Bom Dia de hoje:



Obrigado, Larissa, Michele, Vera e a todos do Jornal Bom Dia, pela divulgação! Agradeço também a Prefeitura de Jundiaí, a Distribuidora Paulista, a todos os jornaleiros, a Editora In House e todas as pessoas envolvidas neste projeto em prol do GRENDACC. Muito obrigado!