sábado, 8 de dezembro de 2012

Chave de Ouro

A Academia Jacarehyense (assim mesmo, com a velha grafia) de Letras promove o Festival Chave de Ouro, em que seleciona os melhores sonetos de cada ano. Neste, tive a grata surpresa de ver meu soneto ser premiado como o melhor de 2012. Honraria que me permitiu receber a "Chave de Ouro"!

Soneto me lembra coisa velha...

Coisa velha, como a estação de trem abandonada no centro de Jacareí, apontada por um senhor que me acompanhou até o local da premiação.



Seu Aparecido poderia ter apenas apontado a direção, quando lhe questionei sobre um endereço anotado em um pedaço de papel. Poderia ter apenas me explicado o caminho com "siga em frente", "vire a direita" e na quinta instrução eu já teria me perdido. Como seguir caminhos indicados, escrever sonetos parece difícil, já que devemos seguir instruções precisas...

Ao invés de apenas apresentar as tais instruções para o meu caminho, seu Aparecido resolveu "sonetá-lo" comigo. Ora, para escrever um soneto há que se seguir a fórmula dos dois quartetos e dois tercetos, assim como dois quarteirões seguidos de praça com coreto. Veja que seu Aparecido me acompanhou até o local desejado, versejando sobre os caminhos de Jacareí, trocando um dedo de poesia sobre tempos já idos. Bons tempos. Eis a alma do soneto, muito mais do que mera métrica...

Soneto me lembra coisa velha: a boa e velha cortesia dos que ainda sabem sonetar caminhos. Foi assim que naquela cidade senti-me mais do que bem vindo, um velho conhecido de novas calçadas.

Recebi ou não, em Jacareí, a chave de ouro?






Meus agradecimentos ao seu Aparecido, ao presidente  Benedicto Sérgio Lencioni e a todos da Academia Jacarehyense de Letras!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A caravana da ilusão

"A caravana da ilusão chegou à Chapada dos Guimarães. Um velho jipe Rural estacionou em frente à igrejinha de Nossa Senhora de Santana. A porta abriu e uma companhia de atores mambembes saltou. No capô do velho jipe empoeirado um cartaz com o nome da peça a ser apresentada: "A caravana da ilusão", do mestre Alcione Araújo. E atrás dessa caravana, eu fui". (Além do Horizonte, pag 97)




Naqueles dias em que meu lar era uma barraca no mato, em uma praça de uma pequena cidade, conheci Alcione Araújo. Não o autor, mas a sua obra. Estava perdido, assim como os personagens de sua peça diante de uma bifurcação:

"Qual dos dois caminhos seguir?"

"Pergunte, então, qual dos três. Há também o caminho de volta..."

Como eu queria voltar no tempo, para mudar algumas coisas de meu passado. Mas eis que a Caravana da Ilusão me aponta o caminho:

"Para trás já conhecemos tudo"...

É preciso seguir em frente. Esta mensagem, naquele difícil momento de minha vida, surtiu um efeito tão grande que fez o meu sonho de me tornar escritor crescer ainda mais dentro de mim. Se eu pudesse escrever algo que um dia tocasse o coração de alguém, como Alcione Araújo havia feito comigo naquele momento, eu saberia que viver o meu sonho teria realmente valido a pena.

Cinco anos depois, como eu poderia imaginar que eu me sentaria à mesma mesa que o mestre Alcione Araújo? Sonhos são possíveis. Alcione me cumprimentou, como se eu fosse um escritor. Talvez eu fosse, talvez eu seja, mas o que realmente importa é que ele me convidou para viajar, em sua caravana da ilusão poética.




Muito obrigado, mestre Alcione Araújo! Que a sua caravana prossiga, além do horizonte...






sábado, 10 de novembro de 2012

Gratidão


Neste ano, que já está chegando ao fim, relembro os meses que se passaram com um sorriso de gratidão ainda presente. 
Anteontem, fui premiado em Ponte Nova-MG e hoje, estou sendo premiado em Fortaleza-CE. Como gostaria de poder comparecer a todos estes eventos! Infelizmente, às vezes, apenas minhas palavras podem comparecer... Eis abaixo duas mensagens que foram lidas durante as cerimônias de premiação, que gostaria de compartilhar não apenas com a ALACE e a ALEPON, mas com todos os organizadores de premiações literárias pelo Brasil afora! Obrigado a todos!





Agradecimento à Academia de Letras e Artes do Ceará

Gratidão. Escrevi em minha crônica, agraciada neste II Concurso Nacional da Academia de Letras e Artes do Ceará, que minha querida avó havia me ensinado que o caminho da felicidade é o caminho da gratidão. Não poderia haver ocasião melhor do que esta para constatar que isso é verdade. Sinto-me extremamente grato a todos da ALACE. Sinto-me extremamente feliz.
A gratidão se estende a todos os que promovem concursos literários: academias de letras e artes, prefeituras, universidades, sites e blogs, institutos culturais e todas as pessoas que se dispõe, assim como a ALACE, a valorizar a cultura das letras. Não fossem os concursos literários, talvez o meu maior sonho teria morrido. Cogitava desistir do sonho de me tornar escritor, por entender que seria preciso pagar contas, sobreviver. Dei a mim o ultimato: ou ganhava algum dinheiro com a escrita até o fim de 2009 ou eu a abandonaria. Foi então que ao final daquele ano, em um concurso literário de minha cidade, ganhei a minha primeira remuneração por minhas letras. A partir de então, continuei firme e hoje não apenas sobrevivo, mas vivo da literatura.
Digo que vivo, pois a experiência da escrita me leva a viver intensamente. No mês passado, retornei de uma peregrinação literária, em que percorri 10 mil quilômetros em busca das paisagens que inspiraram meus autores norte-americanos preferidos. Tal emoção só foi possível graças a um prêmio literário que recebi da UNIFOR, por um livro de poesias, que foi publicado pela universidade como parte da premiação. E creio que este é um prêmio maior do que o monetário, proporcionar que as palavras de um escritor sejam semeadas, para que os leitores as colham com a leitura. Portanto, Fortaleza e o Ceará já estão acostumados a me proporcionar largos sorrisos de gratidão.
Pela realização deste sonho literário, sou grato a tantas pessoas: à minha família, à minha musa-esposa, aos amigos. E não me importa se quem não me conhece continua a perguntar a minha profissão após revelar que sou escritor... Ou se continuam a se espantar ao descobrirem que moro em um pequeno quarto desativado de asilo, cedido gratuitamente por um amigo, para que possa me dedicar ao ofício de ser escritor. Não tenho carro, moto,  roupas de marca, smartphones, qualquer luxo. Para mim, basta ter a imensa felicidade de poder ser grato a tantas pessoas, não por ter o que tenho, mas por ser o que sou: um escritor feliz.
Por isso, mais uma vez, o meu muito obrigado a todos que incentivam a cultura, colhendo gratos sorrisos, como o que estou a sorrir enquanto escrevo isto: Muito obrigado!        
                                                                                                 
André Kondo (São Paulo, 10/11/2012)




Agradecimento à Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova


Agradeço pela alegria de ser um dos agraciados com o Prêmio “Professor Mário Clímaco”, ao mesmo tempo em que peço desculpas pela minha física ausência.
Queria ir a Ponte Nova. Queria abraçar cada acadêmico da ALEPON, cada ponte-novense. Na verdade, ainda quero. Por isso, tento fazer isso com palavras.
Em 2006, como andarilho, caminhei pelas estradinhas de Minas. Naquela época, sem um centavo no bolso para gastar, encontrei o carinho mineiro. Fui acolhido durante a tempestade, adocei minha boca e minha alma com os doces oferecidos pelo caminho. Ao fim de minha jornada, escrevi um livro. Sei que, ao não ir a Ponte Nova nesta noite especial, deixarei de sentir mais uma vez o ar de Minas e o abraço mineiro. Mas, não me entristeço, pois ao saber que minhas palavras foram lidas em Ponte Nova, sinto-me um pouco presente aí com vocês. Creio que esta é a magia celebrada hoje à noite... Uma noite em que palavras se transformam em pontes, que unem pessoas que estão fisicamente distantes, mas que sonham o mesmo sonho repleto de letras, que a todos aproximam em um grande abraço.
Muito obrigado!

André Kondo (São Paulo, 08/11/2012)

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quando perder é ganhar.

Há cinco dias, tive uma grande alegria. Um escritor estreante ganhou o Prêmio Jabuti! Uma de minhas obras também foi inscrita no prêmio e perdeu de longe! Então, se eu perdi, por que eu deveria comemorar a vitória de outra pessoa?


Oscar Nakasato e eu, durante a cerimônia do Prêmio Bunkyo de Literatura.


Durante vários dias, fiquei falando entusiasmado sobre a vitória de Oscar Nakasato. Comentário: Você está feliz porque ele é japonês como você? Bem, primeiro, não sou japonês, sou brasileiro, rs. Mas tudo bem.  Outros comentaram que a vitória foi injusta. De fato, li várias coisas sobre o misterioso jurado "C" que atribuiu notas absurdamente baixas aos favoritos a vencer o prêmio, dentre eles, a atual presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, o que levou Nakasato à vitória.

Adoro os livros de Ana Maria Machado! Creio que muitas pessoas aprenderam a gostar de literatura com um de seus livros. Não li a sua obra que estava concorrendo, mas com certeza procurarei ler. Por outro lado, eu li a obra vencedora: Nihonjin. E também daria nota dez! É emocionante! Da mesma forma, acredito que nunca daria uma nota tão baixa a um livro de Ana Maria Machado, mas a questão é que muitos que criticam a vitória de Nakasato sequer leram a sua obra! Neste caso, parece que está em julgamento não o mérito de Oscar, mas o injusto demérito de Ana.

Já fui convidado para ser jurado em alguns concursos. Declinei, porque, para mim, eu cometeria uma "justiça" com a obra vitoriosa, mas cometeria várias "injustiças" com as demais obras que, certamente, também teriam o seu merecimento. Isso porque, infelizmente, a maioria de nós não gosta de perder, rs.
Mas isso não significa que não podemos nos alegrar com a vitória alheia! Por que desmerecer uma vitória, sem sequer conhecer o mérito do vitorioso?

Dois dias após a vitória de Nakasato, tive outra grande alegria. Eu era um dos finalistas do Concurso de Poesias Nhô Bento. Defendi a minha poesia da forma mais intensa que pude. Ergui os braços aos céus, caí de joelhos, fiz com que cada palavra e sentimento do meu poema transbordasse pelo meu corpo, fazendo com que cada gesto vertesse um verso no palco. Porém, não ganhei.
Quem ganhou foi uma garota praticamente estreante que interpretou a poesia sem dar sequer um único passo. Parada, ela apenas movimentou os braços e sequer recitou um único verso durante a sua interpretação. Porém, ela venceu. Ao final da cerimônia, algumas pessoas vieram falar comigo, dizendo que eu merecia ter ganhado. Chegaram a falar em injustiça...

Deveria ficar triste com a minha derrota? Pelo contrário, eu estava feliz pela garota que ganhou! Pode parecer demagogia ou apenas mentira. Mas por que mentiria? A garota que ganhou estava em uma cadeira de rodas. Ela até tinha dificuldades para falar. Mas acredito que não foi porque ela era portadora de necessidades especiais que ela recebeu tratamento especial no julgamento. O fato é que ela subiu ao palco e defendeu o seu poema, assim como eu, da forma mais intensa que pôde. Por isso, para ela, eu daria nota máxima.


Já tive a felicidade de vencer dezenas de prêmios literários. Com certeza, ganhar o Nhô Bento acrescentaria um troféu em minha estante. O que seria bom, mas nunca poderia me acrescentar a alegria que tive ao ver o sorriso daquela garota que venceu. Será que eu perdi ou ganhei com a minha "derrota"?

Eu acredito que quando aprendemos a nos alegrar com a alegria dos outros também, só temos a ganhar, sempre!


Parabéns ao Oscar Nakasato! Parabéns à Jussara Gomes! E também à estreante Thaís Matos Pinheiro e a todos os que participaram deste momento emocionante.






sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Caindo na estrada, para ler a América!

Partir ao fim do inverno hoje e chegar no início do outono amanhã . Parece impossível?

Vou além... É possível viajar apenas com poesia?

Pois eu digo que quando se parte em uma jornada literária, tudo é possível!


Hoje, vou para os Estados Unidos, graças ao Prêmio de Literatura UNIFOR 2012. A premiação incluía além da publicação do livro "Cem pequenas poesias do dia-a-dia", uma passagem para Washington para visitar a Biblioteca do Congresso Nacional.

Que grana vou usar por lá? Claro, o de prêmios literários em... poesia!

Desta forma, parto no inverno, chego no outono, em uma viagem paga pela poesia.

Vou folhear as páginas da América, percorrendo mais de dez mil quilômetros em busca da essência que inspirou grandes escritores como Ernest Hemingway, Salinger, Walt Whitman, Edgar Alan Poe, Jack London, Jack Kerouac, Thoreau, Emerson, Mark Twain...

Com uma passe de ônibus na mão, dormindo na estrada, parto, em busca de um tempo em que todas as estações se passam ao mesmo tempo. O tempo do agora!

Pé na estrada!

Até breve, assim espero.

domingo, 9 de setembro de 2012

Livro de Graça na Praça

Você já viu pessoas felizes em uma fila? E não é que haviam muitas delas ali, esperando para pegar uns rabiscos dos escritores do livro "Belo Horizonte - 24 autores", na praça da Liberdade? 
Não há como descrever isso: autografar milhares de livros. Esse é o sonho de dez entre dez escritores. E eu estava vivendo esse sonho.




Mas o domingo não foi especial apenas por isso. Encontrei vários amigos (Jacqueline, Relva, Fátima, Alexandre)! Como é prazeroso dar um livro a um amigo na praça, em um domingo ensolarado. E como é gostoso ganhar um docinho mineiro (obrigado, Jacqueline Salgado) nessa mesma praça! E como é gostoso abraçar os amigos!

Amigas escritoras de Minas: Jacqueline Salgado, Relva do Egypto e Fátima Soares 

Há quanto tempo você não faz isso? Há quanto tempo não tem o prazer de sentar em um banco na praça para ler um livro, para encontrar os amigos ou simplesmente para curtir o sol? 

Neste domingo, fiz tudo isso... E posso dizer que volto da praça renovado e tão cheio de vida, que sou capaz de enfrentar qualquer fila durante a semana, com um sorriso de domingo no rosto. 











Agradecimentos:

Muito obrigado ao Sr. José Mauro, idealizador e coordenador do projeto Livro de Graça na Praça, que distribui livros há dez anos na Praça da Liberdade, Belo Horizonte-MG. 

Muito obrigado ao FECOMERCIO MINAS - SESC E SENAC-MG, que gentilmente me presentearam com as passagens aéreas, a hospedagem e o transporte em Belo Horizonte. (Obrigado, Cecilia dos Santos Gomes, Sr. Paulo e Érica)

Muito obrigado a todos os escritores, companheiros de mesa de autógrafos. Foi uma grande honra para mim estar entre tantos escritores de renome. 

Muito obrigado a todos os envolvidos neste belíssimo projeto, que não distribui apenas livros, mas sorrisos na praça. 

E claro, muito obrigado ao povo de Belo Horizonte, por me lembrar que ainda há alegria na praça!






Escritores: Affonso Romano de Sant´Anna, André Kondo, Antônio de Faria Lopes, Arthur Vianna, Beatriz de Almeida Magalhães, Carlos Henrique Gomes de Campos, Cícero Christófaro, Cida Chaves, Dagmar Braga, Elza de Moura, Emerson Monteiro, Everaldo Chrispim, Fabiano Salim, Fábio Lucas, Fernando Brant, Fernando Fabbrini, Frei Betto, Hélton Gonçalves de Souza, J. Flávio Vieira, José Bento Teixeira de Salles, José Mauro da Costa, Jussara Queiroz, Olavo Romano e Petrônio de Souza Gonçalves.

domingo, 19 de agosto de 2012

O cheiro do livro


Entre dois sábados foi o tempo em que vivi um dos capítulos mais tocantes da minha vida. Entre duas feiras literárias foi o espaço em que se desenvolveu essa história. Uma delas, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo. A outra, a Feira Literária de Caraguatatuba (FLIC).
            Creio que todos já conhecem a Bienal, um grande evento na maior cidade do Brasil. A outra é uma feira literária em sua segunda edição, um evento que muitos considerariam ainda pequeno, realizado em uma cidade não tão grande quanto a capital paulista. O que elas têm em comum?
            Recentemente, escrevi um texto sobre a minha visita à Bienal do Livro e tive a felicidade de vê-lo publicado no informativo, distribuído durante o evento. A CBL, a Reed e a Viveiros fizeram a gentileza de me enviar uma cópia em pdf, anexada ao meu email. Abri o arquivo. Fiquei emocionado, mas... faltava alguma coisa. Para explicar o que faltava, vamos à FLIC.
            Enquanto acontecia a Bienal em São Paulo, acontecia também a FLIC em Caraguatatuba. No impresso do evento, estavam anunciados os escritores convidados. Eu e “um tal” de Ignácio de Loyola Brandão. Vocês imaginam o que é ver o seu nome impresso abaixo do de Ignácio? Quando fui conhecê-lo, entreguei-lhe o meu livro, dizendo, meio constrangido e pejorativamente, que era apenas um livrinho. Ignácio disse: “Nunca diga isso! Livrinho eu não quero” Logo em seguida... cheirou. Cheirou o livro com prazer. E disse: “Eu gosto do cheiro do livro”.




            Pois bem, duas coisas eu aprendi naquele momento. Uma é o que faltava em meu texto publicado. Faltava o cheiro do papel impresso, a sensação de carinho, do toque. Por isso, logo após a final da FLIC, voltei à Bienal para tentar encontrar o informativo publicado há três dias. Queria cheirar as minhas palavras!
            Ao chegar à recepção, o segurança me cumprimentou com um sorriso. Eu estava com um livro na mão. Ele me perguntou sobre a obra. Conversamos sobre livros. Logo após, me conduziu às moças da recepção. Expliquei a elas o meu intento. Gentilmente, uma delas se dispôs a procurar o impresso. Após um tempo, eis que ela vem com um papel amassado. Lá estava o meu texto. Ela me disse assim: “Que pena que está amassado”. Respondi: “Muito obrigado! Não me importa de estar amassado. Estou feliz de estar aqui”, disse apontando para o papel impresso.
            Pois bem. Não me importo de estar amassado entre milhares de pessoas, enfrentando filas imensas na Bienal. Estou feliz ali, entre palavras e sentimentos. Muitas pessoas reclamam de serem amassadas, porque estão assim por uma outra razão. Amassam-se correndo atrás apenas de dinheiro, rasgando as pessoas pelo caminho. Aí vem a outra coisa que Ignácio me ensinou.
            Os responsáveis pela FLIC me contaram, com tristeza, que neste ano, os livreiros e as editoras que haviam participado no ano anterior não quiseram participar, porque no mesmo momento estava acontecendo a Bienal do Livro em São Paulo. Evento pequeno. Evento grande. Não existe isso. Tudo é um grande evento na vida, quando realizado com o coração.
Durante o grande evento da FLIC, conheci uma família vendendo livros: um pai (Clodoaldo) e três filhos (Cristiano, Évelin e Felipe). Os organizadores estavam felizes por terem encontrado alguém para vender livros na feira, apesar de este não ser o foco principal. O principal era difundir o amor pelos livros. E isso foi feito por essa família livreira. Em dois velhos carros, amassados entre livros, eles seguiam viajando, vendendo obras literárias. Vi livros sendo vendidos a 50 centavos. Perguntei: “Isso dá lucro?” Resposta: “Não. Mas esses aí são só para quem não tem muito dinheiro, para que eles possam ter a alegria de comprar um livro também”. A alegria de poder ter um livro...

Família Freitas: unida pela paixão pelos livros.

            Durante a FLIC, vi essa alegria muitas vezes. Crianças que me amassavam com abraços após a minha palestra, pedindo autógrafos até em seus braços, folheando o livro do meu coração. Pessoas trabalhando com amor pelos livros: professores, alunos, estagiários, pessoal de apoio, atores, contadores de histórias, artistas, estagiários, livreiros... Famílias. Pessoas se amassando em abraços durante a FLIC. Pessoas que plantaram uma muda de pau-brasil ao final da feira literária, que juntas irão crescer. Pessoas que sabem que um grande evento não se faz com a quantidade de pessoas, mas com a qualidade delas. Qualidade que, felizmente, ainda encontrei na Bienal.
Enfim, um livro “grande” ou “pequeno”, seja como for, ambos possuem o mesmo cheiro quando escritos, feitos, comercializados e lidos com amor: o cheiro de vida.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Minha primeira feira literária



Como escritor convidado da FLIC, tive o prazer de reencontrar os alunos do 8º ano do Avelar. Há uma semana, havia entregado 120 livros do Além do Horizonte nessa escola com uma dúvida na cabeça: "Será que eles vão ler um livro de 216 páginas?"
E não é que leram! Alguns poucos disseram que não, mas vi que a maioria leu ou estava lendo o livro. O que mais um escritor pode sonhar além disso?
Foi muito bacana o bate papo!


A próxima turma chegou. Uma turma do 6º ano. Falei sobre o meu livro "Amor sem Fronteiras". Nenhum daqueles alunos havia recebido qualquer obra minha. O que me deixou um pouco triste. Mas a tristeza logo passou. Eu estava contando histórias do meu livro. E contar uma história é quase como ser lido. Como não tinham livros para pedir autógrafo, vieram com folhas em branco.

Por fim, atendi a um grupo do 6º ano de uma escola da cidade vizinha de São Sebastião. Perguntei a eles sobre o que eles gostariam que eu falasse: sobre o meu livro de relatos de viagem, de crônicas ou o de poesias. Confesso que não poderia imaginar que eles escolheriam o meu livro de poesias. Crianças gostam de poesia?
Gostam de boa poesia.
Aí estava o problema. Será que a minha poesia era boa o suficiente? Não quis arriscar e pedi uma ajuda ao poeta Rainer Maria Rilke. Ganhei da FNLIJ (como parte da premiação do Leia Comigo!) o livro "O Carrossel", publicado pela Berlendis & Vertecchia Editores. Li  o poema. Crianças gostam de Rilke?
Como disse, gostam de boa poesia.
Gostaram sim.
Após a leitura do poema, convidei: Vamos escrever uma poesia juntos?
Crianças escrevem poesia?




Sim.
As crianças do 6º ano toparam. Cada aluno colaborava com um verso. Como Rilke falou sobre o Carrossel, o que poderíamos fazer para superá-lo? Oras, simples. Escrevemos o poema:



A RODA GIGANTE


A roda gigante sempre bonita e elegante
A roda que se agiganta no horizonte
Da vida
Sem vida
Com muita alegria
Com muitas luzes coloridas
E lá vai a roda
Gira
Com luzes deslumbrantes
Ela vai e fica
Porque ela é...


Infelizmente, a atividade teve que ser encerrada neste ponto do poema, porque os alunos tiveram que partir no ônibus de volta à cidade vizinha. Ficou um gostinho de quero mais. Quem ajuda a terminar esse poema? É só deixar o seu verso em forma de comentário. Próximo comentário, próximo verso. E assim por diante... Ou vocês acham que o poema ficou bom assim? Com ar de mistério no final?

A todos os alunos, um grande abraço e muito obrigado por surpreender a este escritor em formação.


PS: Peço desculpas às mães, porque muitos de seus filhos pediram autógrafos em seus uniformes escolares... Nunca dei tanto autógrafo na minha vida... Senti-me como o próprio Jack Chan...



domingo, 12 de agosto de 2012

Bienal do Livro - Vale a pena?





Ouvi pessoas dizendo que a Bienal do Livro de São Paulo já não é mais a mesma. Que o número de visitantes cai a cada biênio, que não vale mais a pena ir à Bienal, já que hoje é perfeitamente possível comprar livros pela internet, sem ter que pagar ingresso, enfrentar filas, lutar por uma vaga de estacionamento, etc, etc... Será?





Na sexta-feira, eu estava vivendo este dilema: vou ou não à Bienal? Disse à minha esposa: "Acho que não vou à Bienal, vou esperar você chegar e ficaremos juntos em casa". Ela disse: "Eu sei que você quer ir. Eu tenho que ir ao meu estágio, enquanto isso, você vai à Bienal e depois a gente se reencontra. Que acha?". Minha esposa... minha musa-esposa. Ela consegue me ler por completo. Sabe as minhas entrelinhas. Então ficou assim. Ela pegou a moto, me deixou na Bienal a caminho do estágio... 

E o que fiz sexta à noite na Bienal? Participei do lançamento da antologia em homenagem a Jorge Amado, organizado pelo escritor Valdeck de Almeida de Jesus, e que contém uma crônica minha. Lá conheci várias pessoas que também tinham um texto publicado naquele livro. Alguns vieram até de Salvador para participar do lançamento! E dentre essas pessoas estava a Dona Neva de Oliveira, uma simpática senhora, que na felicidade de seus mais de 80 anos, estava adorando, como uma criança, o lançamento de seu texto na Bienal. Abracei-a e depois corri para o lançamento do livro "Águas de Clausura", obra premiada do meu amigo e escritor Edelson Nagues, que veio de Brasília especialmente para o evento. Foi a primeira vez que o abracei sem ser na forma virtual do "um abraço" depois de um email ou recado de rede social ou da comunidade "Concursos Literários". Bem, ao final da noite, minha esposa me buscou. Ela sorriu pra mim. Por quê? Porque ela tem a mania de ficar feliz quando eu estou feliz. 

No dia seguinte, voltei à Bienal para encontrar mais amigos. Conheci outra amiga virtual, a escritora Amanda Reznor, que está lançando o livro Delenda. Lá estávamos eu, o Edelson, a Amanda e pouco mais de cinco escritores em volta de uma mesa (dentre eles Janaína Rico, Rodolpho Wraider e Luciane Rangel) para o sorteio de livros agitado pela Internet, na qual cerca de 300 pessoas confirmaram participação. Cadê o pessoal? Os trezentos? Pulverizados pela Internet! Sorte do Edelson, que teve mais chance de ser sorteado e de acabar premiado com o livro "Delenda". Abraços. 




Abraços. Onde você consegue um abraço online? Livro para muitos é apenas um objeto. Para outros é pura emoção. Para os primeiros, tudo bem comprar livro só pela Internet. Não faz diferença, é o mesmo que comprar um liquidificador. Mas para os demais, que sabem que um abraço real não se encontra na Internet, vale a pena ir à Bienal. 

Na Bienal, fui ao Salão de Ideias e pude "sentir" a literatura do grande escritor Milton Hatoum. Pude ouvi-lo, apertar sua mão, rir de seu bom humor, admirar o seu talento ao vivo. Sempre imaginava grandes escritores como algo meio irreal. Por que não dizer, virtual? Mas sabem de uma coisa? Escritores existem! São de carne e osso e alguns como o Milton têm alma também! Até o Ziraldo é real! Eu o vi. E centenas de escritores também, como Edelson, Amanda e eu, que apesar de não sermos tão conhecidos, também temos a felicidade de escrever e existir. Todos sabem que a literatura de Hatoum é primorosa. Agora, eu sei que a de Edelson também. Sorte de quem lê, mas tem mais sorte quem pode compartilhar alguns momentos ao seu lado. Enfim, vou finalizar contando uma coisa muito bacana que aconteceu comigo no dia seguinte, isto é, no Dia dos Pais.


Este da foto não é o meu pai. É o Milton Hatoum, oras!


Meu pai sempre havia sido contra essa minha ideia de ser escritor. Claro que entendo agora que o que o preocupava era a questão financeira. Mas, quando fui dar um abraço pelo Dia dos Pais, ele me mostrou uma prateleira que ele tinha feito. Lá estavam vários livros em japonês. Então, ele apontou um cantinho, dizendo assim: "Aqui é a prateleira reservada para os livros de André Kondo". E lá estavam os meus livros publicados, todos que ele havia adquirido nas festas de lançamento...

Preciso dizer mais? Vocês imaginam  pais comprando os livros dos filhos pela Internet? Sem aquele ar orgulhoso de "esse é meu filho" ? Sem um... abraço? Enfim, a vida pode ser mais fácil pela Internet, mas é fora dela, nas bienais da vida é que ela realmente acontece. 





quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Além do horizonte há uma escola



Fui convidado pela EMEF "Antônio de Freitas Avelar", de Caraguatatuba, para entregar e apresentar o meu livro "Além do Horizonte".
Confesso que fiquei um pouco preocupado. Como seria a minha recepção? Será que os alunos jogariam bolas de papel em mim? Será que me chamariam de Jack Chan? Graças à Deus nenhuma bola de papel, borracha ou qualquer coisa voou em minha direção, a não ser, os olhares.
Mas, por que deveria ficar preocupado? Infelizmente, com a televisão nos mostrando tantos jovens "perdidos", passamos a nos preocupar. Jovens que sequer respeitam os pais... Mas além desse horizonte, existe uma... escola. Escola que merece este nome. 
Fiquei emocionado ao ver que aqueles jovens alunos não apenas prestaram atenção, mas aplaudiram e me cumprimentaram ao final da apresentação com um "obrigado".
Claro que houve os que tentaram fazer piada da situação, mas nenhuma de mau gosto e confesso que até ri de suas piadas (que eram boas). Outros mostraram consciência, mostrando uma desenvoltura que não pensei que encontraria em alunos tão novos.
Ver jovens tão bem educados me dá um orgulho tremendo. Afinal de contas, é disso que precisamos: boa educação. Parabéns aos professores e aos alunos também.
Saber que 120 alunos estão lendo o meu livro é bom demais! (Quer dizer, espero que estejam lendo!) Agradeço à Secretaria Municipal de Educação de Caraguatatuba, aos professores do "Avelar" e em especial à professora Cristiane Bachiega, que me fez o convite inicial, à Flaviana, Mônica e Maurício. E claro, a todos os alunos que tiveram a paciência de me ouvir e (espero) ler minhas palavras.
O autor agradece, com um sorriso no rosto.


PS: Sim, me chamaram de Jack Chan. Gosto do Jack ;)

sábado, 30 de junho de 2012

É possivel?

Vivo a vida que quero. Trabalho como escritor. Não riam! Um trabalho, dizem, é aquilo que te sustenta financeiramente. Ué, eu pago minhas despesas com poesia. Agora não conseguiram segurar a risada? Sim, escrevo poesia, ganho uma grana em algum concurso de poesia. Escrevo um conto, ganho mais alguns "contos" em outro concurso literário. Assim vou arrecadando o dinheiro necessário para viver sem ter que ser “pior do que um mendigo” (como um dia meu pai me disse que eu era) isto é, deixar que as pessoas que me amam paguem pela minha sobrevivência (ele estava certo).
Aliás, uma coisa que me ajuda muito a viver assim é o fato de viver sem contas pra pagar. Isso mesmo, não tenho contas a pagar. A isso, agradeço ao Fernando, tataraneto do barão de Mauá, que gentilmente me cedeu um quarto, em uma parte desativada de um asilo de sua propriedade. Generosamente, ele me disse que eu poderia ficar por lá, sem pagar conta alguma, sequer de água e luz, até quando eu me mudasse para o “andar de cima”. Não, isso não foi um eufemismo. O andar de cima é um asilo em plena atividade. Moro no andar inferior. Com uma vista "superior" para as árvores e vários macaquinhos.
Como conheci o tataraneto do Barão? Quando fui procurar um lugar para abrigar cinquenta tailandeses. O grupo em questão me convidou para morar com eles. Por seis meses, morei e convivi com esse povo incrível em uma chácara alugada do tataraneto do Barão, também sem pagar contas e ainda ganhando algum dinheiro como intérprete. Eu os conheci no aeroporto...
Minha vida é assim, cheia de surpresas, desde o dia em que decidi viver a vida como eu a queria, e não como as pessoas esperavam que eu a vivesse. Isso foi no ano de 2003.
Após trabalhar duro no Japão, em turnos de até 15 horas por dia, consegui juntar dinheiro para pagar por um mestrado na Austrália. Mas, enquanto estudava na University of Sydney, percebi uma coisa curiosa. Por que fui trabalhar no Japão e por que fui estudar na Austrália?
 Ora, no fundo, eu só queria viajar, conhecer novas culturas, viver para poder contar boas histórias, ser escritor. Então, por que estava estudando Marketing? Para conseguir um bom emprego para ganhar bastante dinheiro para comprar uma boa casa e um bom carro para logo depois pagar o IPTU e o IPVA desses bens e comprar mais bens “essenciais” para ganhar mais contas para pagar. Tudo isso sem vírgula mesmo, sem pausa. Ora, isso é a vida que eu não queria. O que eu queria? Queria viajar e escrever sobre minhas viagens. Queria morar no mundo e só pegar carona em todos os carros. Simples assim.
Eu tinha 27 anos quando decidi isso. Juro que não sabia que nessa idade Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Brian Jones, Kurt Cobain, Amy Winehouse (essa eu não poderia saber mesmo, só se fosse vidente) morreram com essa idade. Creio que é uma idade crítica, a idade em que os jovens sonhos envelhecem em um único segundo. Enfim, ao invés de morrer ou deixar o meu sonho morrer, preferi viajar, como escrevi na orelha do meu primeiro livro: “Uma viagem sem destino é um suicídio sem morte”.
Melhor do que morrer de verdade, não acham? Assim, viajei. Decidi deixar a Austrália e voltar para casa pelo caminho mais longo, passando por 50 países. Oito meses depois, tranquei-me em um quarto na casa de minha querida irmã por um ano. Por um ano, só escrevi. Vi que escrever não era tão fácil assim. Em uma grande fogueira, desistia de escrever. Para logo a vontade renascer como uma fênix.
Era preciso viajar de novo, não para buscar coisas para escrever, mas apenas para viver. Na minha primeira viagem, preocupei-me demais com os lugares, as sete maravilhas do mundo, esquecendo-me de que quem construiu as maravilhas foi o ser humano. Isso, as pessoas! Saí em busca delas, para, quem sabe, me encontrar entre elas. Botei o pé na estrada de novo. Desta vez, torrei tudo na estrada e continuei viajando, sem grana. Dormi entre mendigos e malucos, nas ruas e nas matas, peguei carona, andei centenas de quilômetros... Voltei para casa e escrevi o meu primeiro livro: “Além do Horizonte”.
Por insegurança, não tive coragem de mandar para as editoras. Mandei para apenas uma e não recebi resposta. Pronto, mais uma vez achava que seria isso, o fim antes do começo. Então, meu padrasto me disse, entregando um envelope com dinheiro, parte de uma herança dividida entre 9 irmãos: “Para o seu livro”.
Olhando para o envelope, lembrei-me das palavras do meu grande amigo, Felipe, que sempre acreditou mais em mim do que eu jamais poderia acreditar. Ele dizia que era inútil as outras pessoas acreditarem em mim se eu mesmo não acreditava. Lembrei-me das palavras do pai dele, durante o funeral de seu filho, meu amigo Felipe: Escreva um livro pra ele. Peguei a grana. Paguei para publicar o livro, dedicado a ele, e lançá-lo, no dia de seu aniversário. 
Agora, vinha o trabalho. Carreguei livros para vendê-los. Debaixo de chuva, carreguei a sinopse do livro para divulgá-lo. Sucesso de vendas entre amigos. Fracasso nas cidades desconhecidas. Carreguei mais livros e, quanto menos vendia, mais pesado eles ficavam. Quem disse que escritor não sua?
Veio o segundo livro, Amor sem Fronteiras, também pago. Com ele, veio a primeira premiação, pela União Brasileira de Escritores,  realizada no Teatro da Academia Brasileira de Letras. Porém, o maior prêmio deste livro foi tê-lo lançado no dia do aniversário de minha musa, Patrícia. Nunca esquecerei o seu sorriso, após entrar na fila para pegar um autógrafo. Disse a ela que o seu livro tinha um marcador de página especial, que marcaria a história de nossas vidas. Quando ela puxou o marcador, encontrou a aliança...
Veio o terceiro livro, Contos do Sol Nascente, agora, pago pelo Governo do Estado de São Paulo. Vendi mil livros, arrecadei dez mil reais. Doei cada centavo para entidades beneficentes. Isso porque, muito melhor do que receber é dar, com amor. Uma forma de agradecimento por tudo o que tenho recebido durante estes anos dedicados à literatura. O livro recebeu três prêmios literários... e o sorriso de meus pais.
Veio o quarto livro, Cem pequenas poesias do dia-a-dia e, com ela o maior prêmio que um escritor como eu poderia receber. A publicação de sua poética obra premiada na ocasião e uma viagem. Foi durante a cerimônia de premiação, realizado no Teatro Celina Queiroz, na Universidade de Fortaleza, que contei um pouco do que aqui está escrito para o público presente. Após falar, o que imaginei ser um monte de besteiras, recebi vários comentários, de pessoas que me agradeceram... dizendo que eu era um exemplo de que sonhos são possíveis.
Sim, há alguns anos, sonhava em ser escritor. Hoje sou. Talvez não seja um escritor consagrado, mas sou escritor. Vivo de minha escrita, com alegria.
Por isso, gostaria de dizer que se vocês têm um sonho lutem por ele. Mas devo alertá-los, se não tiverem a capacidade de fazer algum sacrifício pelos seus sonhos, nem tentem correr atrás deles. Será perda de tempo.
Já passei fome, solidão, dormi na chuva, mas sempre imaginei o quanto isso seria bom no final, porque sabia que isso daria uma boa história para contar. Já carreguei cem livros nas costas para vender apenas um. Já pensei que não ia dar certo e superei. Já ouvi muitos "não" e pessoas me dizendo que o que eu fazia não era trabalho, que era hora de trabalhar de verdade e deixar de ser vagabundo. Já riram de mim... Mas, agora, eu rio, não deles, mas para mim.
Também, se não tiverem a capacidade de abrir mão do superficial para irem atrás de seus sonhos, não abram, permaneçam na superfície das coisas. Isso não é errado, se isso traz alegria profunda. Para mim, bens materiais não me iludem. Eu não ligo quando tenho que ir aos locais a pé, por não ter carro. E sinto orgulho de andar na garupa da moto da minha mulher, quando temos que ir a um lugar mais distante. Ouvi de alguns amigos (dois muito próximos) que teriam vergonha de ir na garupa de uma mulher. Acho besteira, por que isso? Quem não ficaria orgulhoso de seguir uma grande mulher?
Não tenho casa, moro em um quarto, em um asilo afastado. Cozinho coisas simples em um fogareiro elétrico. Lavo a louça na mesma pia do banheiro e lavo a roupa em uma bacia debaixo do chuveiro.
Há anos não compro sequer uma peça de roupa para mim. Tudo é presente que recebo de pessoas queridas, em meu aniversário, no Natal e em qualquer outra data especial ou não. Não ligo para marcas ou estilos, visto o que ganho e posso dizer que estou vestido com a melhor grife do mundo. Estou vestido com a marca do amor.
Minha família me dá o apoio que preciso para caminhar. Retribuo quando posso, não porque é preciso, mas porque isso me traz uma alegria muito grande. Por exemplo, com o dinheiro de meu primeiro prêmio literário, tive a felicidade de poder comprar uma viagem para minha mãe e meu padrasto. 
Meus amigos me dão amizade sincera (o que um cara como eu pode dar a eles, se fosse um caso de amizade interesseira?)
Minha esposa me dá a maior prova do amor verdadeiro: a liberdade. Ela me faz acreditar ainda mais que sonhos são possíveis. Ela me apoia e eu a apoio. Juntamos os nossos sonhos e assim os realizamos juntos.
Meus amigos e amigas , se vocês estiverem prontos para isso tudo, viver o amor "que ninguém vê" e relevar as coisas supérfluas da aparência, aí sim, estarão prontos para viver um sonho. Talvez, tudo isso que estou dizendo seja apenas uma grande besteira. Mas é uma besteira com a qual sonhei e realizei. Não estou aqui para dizer que o que vocês estão fazendo é errado. Estou aqui para dizer que o que eu fiz foi certo, para mim. Cada um tem o seu sonho e a opção de vivê-lo ou não.
Eu vivo o meu. Torço para que todos vivam os seus sonhos. Ou melhor, que sejam felizes com as suas realidades, frutos de um sonho realizado ou não.

Felicidades e muito obrigado a todos que tornam possível a realização de meus sonhos!

Um grande abraço!

André Kondo


PS: Para quem quiser se aventurar pelo mundo das letras, recomendo o excelente blog:

 http://concursos-literarios.blogspot.com.br/

Aos amigos da CL, muito obrigado!








quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

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