terça-feira, 23 de outubro de 2012

Quando perder é ganhar.

Há cinco dias, tive uma grande alegria. Um escritor estreante ganhou o Prêmio Jabuti! Uma de minhas obras também foi inscrita no prêmio e perdeu de longe! Então, se eu perdi, por que eu deveria comemorar a vitória de outra pessoa?


Oscar Nakasato e eu, durante a cerimônia do Prêmio Bunkyo de Literatura.


Durante vários dias, fiquei falando entusiasmado sobre a vitória de Oscar Nakasato. Comentário: Você está feliz porque ele é japonês como você? Bem, primeiro, não sou japonês, sou brasileiro, rs. Mas tudo bem.  Outros comentaram que a vitória foi injusta. De fato, li várias coisas sobre o misterioso jurado "C" que atribuiu notas absurdamente baixas aos favoritos a vencer o prêmio, dentre eles, a atual presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, o que levou Nakasato à vitória.

Adoro os livros de Ana Maria Machado! Creio que muitas pessoas aprenderam a gostar de literatura com um de seus livros. Não li a sua obra que estava concorrendo, mas com certeza procurarei ler. Por outro lado, eu li a obra vencedora: Nihonjin. E também daria nota dez! É emocionante! Da mesma forma, acredito que nunca daria uma nota tão baixa a um livro de Ana Maria Machado, mas a questão é que muitos que criticam a vitória de Nakasato sequer leram a sua obra! Neste caso, parece que está em julgamento não o mérito de Oscar, mas o injusto demérito de Ana.

Já fui convidado para ser jurado em alguns concursos. Declinei, porque, para mim, eu cometeria uma "justiça" com a obra vitoriosa, mas cometeria várias "injustiças" com as demais obras que, certamente, também teriam o seu merecimento. Isso porque, infelizmente, a maioria de nós não gosta de perder, rs.
Mas isso não significa que não podemos nos alegrar com a vitória alheia! Por que desmerecer uma vitória, sem sequer conhecer o mérito do vitorioso?

Dois dias após a vitória de Nakasato, tive outra grande alegria. Eu era um dos finalistas do Concurso de Poesias Nhô Bento. Defendi a minha poesia da forma mais intensa que pude. Ergui os braços aos céus, caí de joelhos, fiz com que cada palavra e sentimento do meu poema transbordasse pelo meu corpo, fazendo com que cada gesto vertesse um verso no palco. Porém, não ganhei.
Quem ganhou foi uma garota praticamente estreante que interpretou a poesia sem dar sequer um único passo. Parada, ela apenas movimentou os braços e sequer recitou um único verso durante a sua interpretação. Porém, ela venceu. Ao final da cerimônia, algumas pessoas vieram falar comigo, dizendo que eu merecia ter ganhado. Chegaram a falar em injustiça...

Deveria ficar triste com a minha derrota? Pelo contrário, eu estava feliz pela garota que ganhou! Pode parecer demagogia ou apenas mentira. Mas por que mentiria? A garota que ganhou estava em uma cadeira de rodas. Ela até tinha dificuldades para falar. Mas acredito que não foi porque ela era portadora de necessidades especiais que ela recebeu tratamento especial no julgamento. O fato é que ela subiu ao palco e defendeu o seu poema, assim como eu, da forma mais intensa que pôde. Por isso, para ela, eu daria nota máxima.


Já tive a felicidade de vencer dezenas de prêmios literários. Com certeza, ganhar o Nhô Bento acrescentaria um troféu em minha estante. O que seria bom, mas nunca poderia me acrescentar a alegria que tive ao ver o sorriso daquela garota que venceu. Será que eu perdi ou ganhei com a minha "derrota"?

Eu acredito que quando aprendemos a nos alegrar com a alegria dos outros também, só temos a ganhar, sempre!


Parabéns ao Oscar Nakasato! Parabéns à Jussara Gomes! E também à estreante Thaís Matos Pinheiro e a todos os que participaram deste momento emocionante.