Antes de morar com minha musa, eu morava em uma sala de aula de uma escola de inglês de um amigo, que ainda me dava uma grana por ajudá-lo nas aulas, recepção, limpeza, etc. Escrevia minha primeira obra no longo intervalo entre as poucas aulas que eu dava. Mesmo assim, não consegui publicar meu primeiro livro (não tentei o suficiente) e apenas o fiz por presente de meu padrasto, em 2008. Aceitei, pois o livro era dedicado postumamente ao meu grande amigo Felipe e lançado no dia do seu aniversário. Lancei outro em 2009, dedicado à minha musa. Queria devolver o dinheiro, apesar da recusa do meu padrasto em aceitar. Com insistência, consegui devolver apenas 6 mil reais dos 8 mil que foram pagos para publicar os dois livros (e ainda cometeria o erro de empenhar mais 8 mil para mais duas publicações!) A minha literatura estava dando um grande prejuízo...
Enfim, mudei-me para Jundiaí em 2009, quando passei a morar com minha musa. Escrevia dia e noite, mas escrever não pagava contas. Foi então que fiz uma promessa: "Se não ganhar dinheiro com minha escrita até o final do ano, desisto do meu sonho de viver de literatura". Em meados daquele ano, a professora Neizy Cardoso, à época diretora da Biblioteca Prof. Nelson Foot, entregou-me um panfleto da 5ª Olimpíada de Redação. Ela me incentivou: "escrever é fácil, e você ainda pode ganhar prêmios em dinheiro". As palavras finais do tema não poderiam ser mais propícias: "Ano Internacional da Astronomia: Descobre teu Universo". Será que eu descobriria o meu? Sim, escrever era fácil, difícil era ganhar dinheiro com a escrita...
Comecei a participar de vários concursos literários, divulgados na comunidade CL do Orkut. Muitos com prêmios em dinheiro! Cheguei a conquistar o segundo lugar no tradicional "Prêmio João-de-Barro". Se tivesse ficado em primeiro, ganharia 16 mil reais... Não ganhei. Fiquei em segundo lugar no belo "Prêmio UFF de Literatura". Dinheiro? Nenhum. Apenas a alegria de ter o trabalho reconhecido. O ano estava acabando e eu ainda não tinha ganhado um centavo com a escrita...
Minha última chance estava no prêmio da Olimpíada de Redação. Os doze premiados da minha categoria foram sendo chamados. Apenas os três primeiros ganhavam prêmios em dinheiro; e eu que desejava tanto que todos os doze fossem premiados com dinheiro! Dependia disso o meu futuro. Rezei, pedi fervorosamente a Deus para que eu ficasse em terceiro! O quarto colocado... não era eu. O terceiro... não... Não podia culpar Deus pelo meu fracasso. Foi um balde de água fria. Meu coração já não aguentava mais e quando o segundo colocado foi chamado... levantei-me! Não, eu não era o segundo, estava abandonando o amplo auditório, resignado, dirigindo-me à porta de saída. Não suportaria ouvir outro nome que não o meu. Já antevendo esta situação, quis ir sozinho, não queria que me vissem triste. Quando já estava próximo da porta, de costas para o palco, ouvi o meu nome ecoando pelo salão...
E ninguém da plateia poderia imaginar que as lágrimas e o sorriso eram muito mais do que a conquista de um primeiro lugar. Se tivesse ficado em terceiro, como eu havia desejado, a reação teria sido a mesma. O que importava era ganhar qualquer quantia em dinheiro, porque eu não poderia quebrar a minha promessa! Aquilo era muito mais do que uma vitória. Era a descoberta do meu universo! O título da minha redação era "Sonhando com o céu". O meu sonho era o céu literário! Ficção? Terminava assim meu relato: "é possível afirmar que se o homem não tivesse sonhado com o céu, nunca teria chegado tão longe... aqui na Terra". Ganhei dois mil reais.
Hoje, vivo da escrita. E não há homem mais feliz ao pagar uma conta!
***
Por que escrevo isso hoje? Quatro anos após aquele dilema, eu vivia outro: para qual premiação literária ir?
Um ano após receber meu primeiro dinheiro com a escrita, em 2010, meu segundo livro era um dos premiados na categoria crônicas, recebendo o Prêmio Paulo Mendes Campos, da conceituada União Brasileira dos Escritores no Rio de Janeiro, em uma cerimônia a ser realizada na Academia Brasileira de Letras! O meu primeiro livro a receber um prêmio! Por isso, uma premiação muito querida por mim.
Pois bem, dia 25 de outubro de 2013: ir à cerimônia da 9ª Olimpíada de Redação em Jundiaí, em que eu sequer sabia se seria ou não premiado, ou a outra cerimônia da UBE-RJ na Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro, para receber dois prêmios: Prêmio Ganymédes José (literatura infantil) e Prêmio Humberto de Campos (categoria livro de contos)?
Não parece um grande dilema, já que era certo que eu era um dos vencedores na UBE-RJ, e era bem incerto (e improvável para mim) estar na sigilosa lista de premiação da Olimpíada, segredo que eles guardam a sete chaves!
O que me passou pela cabeça foi o puxãozinho de orelha que recebi por ter ficado em terceiro lugar na mesma Olimpíada de Redação em 2011... e não ter comparecido à cerimônia. O pessoal da biblioteca havia ficado um pouco chateado com isso. (Olha aí, o meu desejo sendo realizado, queria mesmo ter ficado em terceiro lugar em 2009 - antes de descobrir que eu era o primeiro, claro. A verdade é que não queria abusar pedindo pelo primeiro lugar).
Em 2010 e 2012, compareci à cerimônia e não fui premiado, e confesso que não imaginava ser premiado em 2013, afinal, a Olimpíada já havia realizado tudo o que eu havia pedido em relação a ela! Ou não?
Em 2013, curiosamente, mudaram o regulamento e atenderam ao meu desejo lá de 2009: que todos os doze finalistas fossem premiados com dinheiro. E não é que eu fiquei em oitavo lugar? Nunca um oitavo lugar foi tão comemorado! Sorri, pois imaginei que realmente havia acertado em comparecer à cerimônia, pois o pessoal da biblioteca comemorou comigo e eu mais ainda com eles.
Só que a surpresa não acabou aí...
Quando olho para o pacote de livros que os vencedores ganharam como parte do prêmio (além do dinheiro), o que vejo?
O meu livro "Palavras de Areia", premiado por quem? Pela União Brasileira dos Escritores - RJ!
E pensar que há quatro anos eu estava a um passo de desistir...
Há quatro anos, eu nunca poderia imaginar que um livro de minha autoria faria parte do próprio prêmio que me levou a continuar a acreditar no céu literário!
Four!, como diria meu amigo Felipe, que sempre acreditou em meus sonhos e a quem dediquei o meu primeiro livro, em algum lugar do céu deve estar sorrindo - e não é que ele estava certo quando disse que eu seria feliz se viesse para Jundiaí?)
Obrigado a todos da Biblioteca Pública Municipal "Prof. Nelson Foot", que por meio da belíssima Olimpíada de Redação publica textos de crianças, jovens e adultos - quantos escritores estão sendo formados por ela! Obrigado à profª. Neizy, a todos da UBE-RJ, a toda minha família, amigos, aos sonhadores da CL... e a minha amada musa, a quem dediquei o texto vencedor daquela salvadora Olimpíada de 2009.
PS: Em julho deste ano enviei o regulamento ao editor Rodrigo para publicação no blog Concursos Literários, ao qual tenho a honra de fazer parte da equipe. Se você tem o mesmo sonho que o meu, e está meio desanimado, tente participar dos concursos! Vamos compartilhar, para que mais pessoas possam ter a mesma oportunidade que eu tive, de conquistar alegrias literárias graças aos amigos que compartilhavam editais na CL.
Por favor, se tiver conhecimento de algum concurso literário e quiser divulgá-lo, clique AQUI. Obrigado!
Anote o blog: www.concursos-literarios.blogspot.com.br
Seja feliz! Abraços!
7 comentários:
O amigo é a prova viva de que se deve acreditar até o último instante, independente da dimensão do sonho que se almeje! Parabéns! Abraços renovados!
André, alma linda, delicada na luta diária que é ser reconhecido profissionalmente na arte da escrita brasileira. Relatos como o seu renovam as esperanças de nunca desistir de um sonho, por mais impossível que pareça, sempre presente e possível aos olhos de Deus. Parabéns.
André, alma linda, delicada na luta diária que é ser reconhecido profissionalmente na arte da escrita brasileira. Relatos como o seu renovam as esperanças de nunca desistir de um sonho, por mais impossível que pareça, sempre presente e possível aos olhos de Deus. Parabéns.
Adorei o relato, é muito legal ver que tem alguém como a gente e que está dando certo, ainda que cada um na sua área. Dá uma uma invejinha, daquelas esperançosas "po, quero isso pra mim também". Muito sucesso! (não sei o que eu fiz, sem querer eu deletei o comentário...)
Parabéns, André!!!
Muito bom revê-lo e muito bom conhecê-lo melhor.
Grande história. Inspiradora!
Cara, que lindo o teu depoimento!
Estou emocionado.
Parabéns pelos prêmios e que muitos outros venham.
Abraços de seu parceiro de blog Concursos Literários.
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