segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A peregrinação das folhas caídas - Hora de embarcar nessa viagem!






Vou escrever um livro sobre a minha peregrinação literária (realizada nos Estados Unidos com um moeda inusitada: poesia). Ganhei a passagem aérea da UNIFOR, como prêmio pelo meu livro "Cem pequenas poesias do dia a dia". Com outro poema, ganhei 500 dólares, gastos da seguinte forma: 360 dólares por um passe de ônibus da Greyhound e... 10 dólares por dia para as outras despesas. Dez mil quilômetros e muitas aventuras depois, começa aqui um novo livro. Quer me acompanhar nessa nova viagem? Inscreva-se no blog "A peregrinação das folhas caídas", título do meu novo livro, que conta com o apoio de uma Bolsa de Criação Literária do ProAC. 
Postagens todas as quartas, a partir da próxima (02/03/2016). 
Vamos viajar?


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Eu não ganhei o Jabuti, mas estou feliz por isso.

Eu não ganhei o Jabuti, mas estou feliz por isso. Não havia contado isso antes? Eu estava entre os finalistas do Prêmio Jabuti deste ano, na mesma lista que Ziraldo, Hiratsuka, Stella Maris, Ruffato (parabéns pela vitória!) e tantas outras feras que admiro! E por que estou feliz por não ter ganhado? Não quero, agora, dizer o bordão de que estar entre os finalistas já foi uma vitória. Não, a verdade é que eu perdi... e estou feliz por isso.



               Foi um mês de espera desde que a lista saiu e o resultado foi proclamado. Durante esse período, vi o meu nono livro nascer (Contos do Sol Renascente), dei palestras em várias escolas (e quanto carinho recebi no Colégio Ciclo, Magalhães Bastos, Moura Abud), workshops de criação poética (SENAC e SESI), aulas na minha oficina de criação literária (Casa da Cultura). Ganhei outros prêmios, tive vários textos publicados em antologias, assinei um contrato para publicação de um texto em livro didático, tive um livro selecionado para publicação e ganhei uma bolsa de criação literária. Ainda participei de vários encontros literários especiais, como no Rio com os amigos de CL, em Taubaté (Casa Cultura), e em Jundiaí, com os amigos da minha oficina de Criação Literária. Participei do FIB (Fórum de Integração Bunkyo) onde pude falar um pouco sobre a minha paixão literária, fazer o pré-lançamento do meu livro e interagir com pessoas incríveis. E recebi em casa vários livros de amigos escritores (Vivian de Moraes, Lilian Guinski, Odemir Tex, Sidclei Nagasawa), todos carinhosamente autografados! Foi um mês em que nem tive tempo de me dedicar ao mundo virtual, porque a realidade estava tomando todo o meu tempo. As palavras deste mês foram traçadas por sorrisos e abraços de verdade.
               Eu não ganhei o Jabuti, mas fui ao lançamento do primeiro livro (Junte os meus cacos) de uma garota de 16 anos (Glaubia Lisane) e me deparei com o meu nome abrindo a página de agradecimentos, só porque ela disse que minha palestra, na semana literária da escola dela (Magalhães), a inspirou a acreditar em seu sonho de se tornar uma escritora.
               Eu não ganhei o Jabuti, mas dei palestra para o filho do meu amigo Ricardo Serapião, que vibrou quando descobriu que a escola do filho havia adotado o meu livro (O pequeno samurai).
               Eu não ganhei o Jabuti, mas vi o filho Miguel dos amigos Raquel e Odisael (que família de rimas) abraçar o primeiro livro da vida dele (e o livro era meu! o título? – Jabuti sabe voar? – muito próprio, não acham?).
               Eu não ganhei o Jabuti, mas vi minha querida aluna Carla Mirela, da oficina de criação literária, vencer o seu primeiro concurso literário, com um texto belíssimo, que tive o prazer de ler antes da premiação, orgulhoso por ter lido um grande texto.
               Eu não ganhei o Jabuti, mas por que estou feliz por isso? Eu não sei! Pode soar como uma grande mentira (e talvez seja), mas a verdade é que eu chorei quando soube que estava entre os finalistas e sorri quando soube que não havia ganhado no fim. E eu não sei se estou louco, mas não consigo ficar triste por não ter ganhado o Jabuti, esse pequeno quelônio tão almejado por nós, escritores.
               Mas acho que estou feliz mesmo porque se eu tivesse ganhado o Jabuti talvez, erroneamente, eu acreditasse que a minha felicidade vinha deste fato: de ter ganhado o maior prêmio literário do Brasil. Isso seria triste, porque eu acreditaria em uma mentira. Minha felicidade é outra. Estou feliz porque neste mês eu vi crianças apaixonadas por poesia, vi meus amigos lançando livros, vivi encontros literários, vi os filhos dos meus amigos com os meus livros, uma garota lançando o primeiro livro, minha aluna ganhando o primeiro prêmio, vi tanta gente querida torcendo por mim! E, sobretudo, até vi o meu pai escrevendo um poema!        
               Ah! Se eu tivesse ganhado o Jabuti, talvez eu não percebesse que a minha felicidade não vem de prêmio algum, mas é o próprio prêmio que eu recebo a cada dia em que eu descubro que valeu a pena ter me tornado um escritor!
               Jabuti, eu ainda te quero, mas não tenho pressa, assim como você. Hoje, só quero ser feliz, não por ter ganhado um prêmio, mas por ter perdido... o medo de perder. Como é bom saber que, quando se é o que se quer ser, até quando se perde é possível ser feliz! 



Muito obrigado!!!

sábado, 3 de outubro de 2015

A peregrinação das folhas caídas

Há exatamente três anos, eu estava sentado na varanda da casa onde Hemingway nasceu...



Eu estava fazendo uma peregrinação literária pelos Estados Unidos, visitando os autores que me inspiraram a me torna um escritor. Uma viagem que começou em um quarto de asilo (em ala desativada) onde morei, cedido pelo tataraneto do barão de Mauá, o generoso Fernando. Lá escrevi, para um concurso literário, o livro "Cem pequenas poesias do dia a dia", apenas me inspirando nas coisas do quintal. A obra acabou vencendo o Prêmio UNIFOR, o que me deu direito a uma passagem aos Estados Unidos. As despesas foram pagas com o dinheiro que ganhei por outro poema em outro concurso.

Três anos depois, hoje, foi publicado no Diário Oficial que eu fui um dos selecionados para a Bolsa de Criação Literária do Programa de Ação Cultural do Governo de São Paulo, para me dedicar à escrita do livro que irá narrar, em poesia, essa peregrinação.

Há três anos, eu estava sentado na varanda da casa onde Hemingway nasceu... sem acreditar que a minha poesia havia me levado até ali.

Hoje, pela primeira vez, vejo que receberei, antecipadamente, para escrever... poesia.

A poesia é uma viagem que não termina, enquanto se acredita nela. Assim, sigo acompanhando a peregrinação das folhas caídas, deixando-me levar pelos ventos da poesia.




Obrigado ao Fernando, à UNIFOR, à UFSJ, a todos do ProAC, à minha família, aos meus amigos, à minha musa. Obrigado à poesia!


Ah! Um livro de poesia que nascerá de uma viagem proporcionada por um livro de... poesia. Isso não é poético?

domingo, 23 de agosto de 2015

E ainda me perguntam por que amo as palavras...

Neste mês tenho vivido muitas emoções proporcionadas pela literatura. Poderia citar os importantes prêmios literários recebidos (Paulo Setúbal, Lila Ripoll, Foed Castro Chamma, Felippe D’Oliveira), os eventos literários como o Baú de Letras com o “Amigos do Bem”, ler alguns capítulos da minha obra traduzidos para o inglês, ver uma criança abraçada à mãe lendo juntos o meu livro na praça, compartilhar o amor pelos livros com o meu pai, ver as ilustrações do Alessandro Fonseca para o meu novo livro, a exposição de haicais  do seu Orides, amigo e ex-aluno de minha oficina de criação literária – e não poderia me esquecer dos meus queridos alunos atuais e os antigos que revi, os e-mails que recebi, incluindo de escritores que admiro muitíssimo, como Marina Colasanti e Oscar Nakasato, mas, ainda há mais... Após a minha palestra na escola Magalhães, em Taubaté, uma aluna me pediu algumas palavras em seu caderno. Apenas algumas palavras. Ela me abraçou em lágrimas, dizendo que o sonho dela era ser escritora. Outros alunos me rodearam, para conversar sobre sonhos e realizações. O vice-diretor Mirro e a professora Nívea enviaram mensagens carinhosas de profundo agradecimento. E tudo o que eu fiz foi dar a eles... palavras. O que eu não imaginava era que essas palavras ecoariam de tal maneira, que voltariam a mim de forma tão emocionante.
Pois pedi permissão para postar o e-mail que recebi de outra aluna aqui, em meu blog, para que o eco de suas palavras possa ser ouvido por mais pessoas... Porque suas palavras são lindas:


Flores para abrir a palestra na escola Antônio Magalhães Bastos.

Olá! Meu nome é Nicole Rafaela da Silva Madona, tenho 16 anos e sou estudante no período da tarde da escola "Antonio Magalhães Bastos".
Venho por meio desse e-mail lhe agradecer imensamente pelo quanto me ajudou, e também lhe contar a minha história...
Nasci aqui no Brasil mesmo, em Taubaté-SP.
Sempre fui de família grande e humilde. Porém já começa aí!
Desde o meu nascimento minha mãe fazia papel de mãe e pai, fui registrada pelo meu pai biológico na época, ele fornecia pensão e tudo que eu precisava, mas mesmo assim eu não tinha a "figura" paterna presente ali comigo. E então sendo criada com dois irmãos (Nicollas e Douglas) mais velhos , fui construindo meu caráter ali, fui criando minha personalidade. Sou apaixonada por esportes, especialmente pelo futebol  amo assistir, jogar, torcer... Fui aprendendo coisas com o passar do tempo. Sempre fui extrovertida, por isso sempre tive vários "amigos". E então os anos iam passando e eu ia crescendo e tive mais dois irmão, uma menina (Nathalia) e um menino (Nathan)... Porém com o passar dos anos em 2010 minha mãe ficou doente, uma doença que não se sabia exatamente qual era, ela só daria pra ser totalmente diagnosticada após o avanço da doença. E com isso tive que começar a criar responsabilidades. Com 12 anos de idade eu arrumava a casa, cozinhava para meu padrasto, que eu tinha como pai, pros meus irmãos, estudava, acordava cedo pra arrumar e levar meu irmão pra escola, e de noite eu ia visitar minha mãe. Todos os dias que eu ia visitar minha mãe eu chorava na ida e na volta, pois ela era a ÚNICA pessoa que realmente me apoiava, que acreditava em mim e nos meus sonhos, e eu não suportaria perdê-la. E então em 2011 foi descoberta a doença. Era uma doença raríssima chamada "Penfigo", uma doença que era causada pelo sistema nervoso. Essa doença é horrível, deixa a pessoa totalmente deformada, e não tem cura, a saída mais desejada aos doentes que sofriam com essa doença  era a morte. Minha mãe era capaz de dizer que estava tudo bem, mesmo dando pra ver que não estava não, ela era capaz de mesmo internada em uma sala isolada ensinar as pessoas a amar umas as outras, ela me dizia o que fazer, o que dizer, o que ser. Ela me disse que no hospital ela passou os melhores anos da vida dela, pois a cada dia que passava ela se sentia mas perto de Deus, e ali ela viu e conviveu com os seus verdadeiros amigos. Já sem cabelos, pois a cabeça já tinha sido coberta de feridas ela me dizia que era linda. Mesmo com todas aquelas feridas ela se sentia linda.
Era de costume comemorarmos  nossos aniversários em uma só festa, do dia 13 ao dia 14 de Abril pois ela dizia que eu fui o presente de Deus pra ela pois nasci um dia depois dela ter comemorado seu aniversário em 99.
E aí no dia 22 de janeiro de 2013 recebi a notícia de que ela havia falecido. Fiquei sem chão, pois já sabia que desde ali minha vida iria se transformar... E foi exatamente isso que aconteceu. Vim morar com meu pai, em outra família com outros irmãos. A minha realidade já não era mais a mesma, já não fazia as mesmas coisas, minha rotina havia de tornado outra. Me sentia uma estranha nos lugares onde frequentava. Já não era a mesma escola, os mesmos amigos. Havia deixado tudo pra trás... Por muito tempo eu gosto de escrever, sempre fui muito boa com palavras. Me expresso escrevendo, só assim consigo colocar tudo pra fora. E vinha fazendo isso sempre... Mas não conseguia exatamente olhar pra dentro de mim mesma e achar razões pra viver... Em fevereiro desse ano perdi um grande amigo, alguém que estava comigo há vários anos. Foi aí que eu desanimei e começei a procurar pessoas que pudessem estar comigo, assim como minha mãe e meu amigo estavam...
Tinha uma família, pais novos, amigos novos, tinham novas pessoas a minha volta. Havia ganhado uma nova mãe, uma nova avó, mas mesmo assim me sentia sozinha... E ainda sentia saudade dos velhos tempos, e de tudo que havia ficado para trás!
Até que eu ouvi a sua palestra. No começo eu estava dispersa, sabia que era o que eu estava precisando, mas de tão covarde fechei meu coração pra não receber a verdade. Mas quando percebi já estava chorando e suas palavras soavam como direções, verdades, conselhos. E parecia que tudo aquilo que falava era pra mim... Fiquei de pé pra poder te ouvir e te ver pra absorver a sua energia.
Sua palestra me abriu os olhos, me ajudou, me surpreendeu!
Obrigada por me ajudar mesmo não percebendo, por me mostrar que mesmo com lutas é possível viver e que eu NUNCA estarei sozinha! 
Não sei se lembra de mim, mas você será alguém que jamais vou esquecer. Você marcou minha vida, minha história!
Obrigada! 




E ainda me perguntam por que amo as palavras...



Meus sinceros agradecimentos para a Nicole (você me emocionou e posso dizer que a minha alma se levantou para ouvir suas palavras e abraçar a sua energia) e também para a:
Profª Nivea, vice-diretor Mirro e a todos da Escola Antônio Magalhães Bastos.
Profª Esmeralda e profª Mércia.
Prefeitura de Tatuí e o Departamento de Cultura e Desenvolvimento Turístico.
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e o Departamento de Atividades Culturais.
Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro Sul do Paraná.
Prefeitura de Santa Maria e Secretaria de Cultura.
Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide.
Elias Araújo, Isabele e Odemir Tex, por me representarem nas cerimônias literárias.
A todos os envolvidos na realização dos prêmios citados, que muito incentivam o fazer literário em nosso país.
Prefeitura de Jundiaí e Secretaria de Cultura.
Débora e a todos do Amigos do Bem e do Baú de Letras.
Edu Cerioni e todos do Portal JundiAqui.
Alessandro Fonseca pelas ilustrações, Leise pela tradução, JP pela revisão do novo livro (e sobretudo pela amizade).
Editor André (meu xará).
Editoras FTD, CEPE, JBC, In House.
Biblioteca Pública Municipal Prof. Nelson Foot.
Seu Orides e sua primeira dama Marlei pela exposição e calorosa recepção.
A todos os meus queridos alunos da Oficina de Criação Literária, incluindo os da primeira e da segunda turma que tive o prazer de rever neste mês.
Obrigado aos e-mails e mensagens que recebi sobre os meus livros e literatura. Além deste da Nicole, muito me emocionou os e-mails de Marina Colasanti e Oscar Nakasato, grandes escritores que admiro de coração. E também me alegrou muitíssimo o convite da escritora Viviane Veiga Távora para um evento em Cubatão pelo projeto Literatura Premiada (contemplado pelo MINC) e também da Flaviana para participar pela quarta vez consecutiva da querida Feira Literária de Caraguatatuba (FLIC). Obrigado! Ah! E também o e-mail recebido da Biblioteca Pública Municipal de Piracicaba que irá publicar o meu poema na antologia do Prêmio Escriba deste ano (e um microconto no livreto Microcontos de Humor), o convite para a antologia organizada pela escritora Vivian de Moraes com amigos de CL, a antologia recebida da Universidade Federal de São João del-Rey, com o meu poema publicado, a premiação de um haicai no III Festival de Haicai de Petrópolis... Para todos os que me proporcionaram essas alegrias, muito obrigado! 
Muito obrigado também para a minha musa-esposa, minha mãe, meu pai, minha irmã, enfim, minha família e amigos, pelo apoio e carinho!

Para quem leu os agradecimentos até aqui, acho que deu para perceber que um escritor tem muitas pessoas para agradecer ao longo de apenas um mês de sua trajetória (isso mesmo, as interações acima ocorreram apenas neste mês!). Esta lista seria infinita, se eu tivesse que agradecer a todos que me ajudaram desde o início de minha carreira (imagine na vida, então?). Sei que devo ter esquecido de mencionar alguém importante, desculpe-me por isso... O nome que mais tento lembrar é o da menina que sonha em ser escritora. A ela, o meu agradecimento também, por acreditar no sonho literário. Se você estiver lendo isso, saiba que desejo muita força, coragem e, sobretudo, determinação para que, um dia, eu possa me emocionar com suas palavras também.
Enfim, muito obrigado a você, que me lê!


Foto tirada após a palestra, em frente à escola Antônio Magalhães Bastos - Taubaté.

terça-feira, 10 de março de 2015

Presentes

É muito bom sentir gratidão. É isso o que estou sentindo agora, ao folhear a obra "Gifts from the Forest/Presentes da Floresta", publicada pela Seicho-No-Ie no Japão. Minha avó sempre seguiu o "Princípio do Relógio do Sol", que consistia em viver com alegria, observando o lado positivo de todas as coisas do dia a dia. Anteontem, fui à casa da minha avó (sempre será a casa da minha avó, mesmo que ela não more mais lá).



Confesso que senti preguiça de sair de casa. Estava chovendo forte, e eu teria que pegar três ônibus e um metrô para chegar à casa dela. Tomei coragem, meio desanimado. Ao chegar na rodoviária do Tietê, vi uma senhora carregando uma mala com dificuldade. Ofereci-me para ajudá-la e assim a acompanhei. Ao ver o rosto dela, vi traços de dor a cada passo, mas o sorriso não lhe saía do rosto. Ela estava feliz porque estava ali para reencontrar alguém querido. Era só isso o que ela via, ignorando a dor, pois o sorriso falava mais alto. E aquele sorriso me lembrou do sorriso da minha avó... Como pude me sentir desanimado para ir à casa dela, reencontrar pessoas que amo?
Ao chegar, ajudei a preparar o bifun para o almoço. Minha tarefa era das mais simples, cortar pedaços de repolho com as mãos. Minha mãe me disse: "era o serviço da batchan". Sim, por mais cansada que ela estivesse, minha avó sempre queria ajudar. Ela sentia gratidão por isso, sentia-se feliz por poder ajudar... Foi um domingo chuvoso, mas senti o sol quando comecei a cortar o repolho. Após o delicioso almoço, minha mãe me entregou o exemplar de "Presentes da Floresta", com o meu texto publicado nele. Imaginei o quanto a minha avó ficaria feliz ao ver o texto do neto naquele livro. Ela sempre nos presenteava com calendários e publicações da Seicho-No-Ie... O que ela sentiria ao ver um texto do neto em uma dessas publicações?
Pela sacada, olhei para o céu nublado e a chuva. Dali, onde eu estava, não podia ver nem minha avó, nem o sol. Mas ainda assim, sorri, ao sentir que ela estava feliz, lendo o livro em algum lugar ensolarado, onde ela chegou após tanto sacrifício nesta vida, sem nunca ter perdido o sorriso.






O livro contém os seguintes contos infantis:

Mírian, a minhoca que saiu da toca - Claudia Zippin Ferri (Brasil) - Grande Prêmio.
A plantação de melancia - Claire Matsumoto (EUA) - Prêmio de Excelência.
A semente de Girassol - Mai Mizui (Japão) - Prêmio de Excelência.
Yukio caiu no rio - André Kondo (Brasil) - Menção Honrosa.
O céu noturno - Erika Davies (EUA) - Menção Honrosa.
A raposa Konta e o Dr. Konta - Kyoko Miyata (Japão) - Menção Honrosa.
O enigma do sol - Vivien Hellen Santos de Carvalho (Brasil) - Menção Honrosa.
A árvore da mesa - Yuumi Hasegawa (Japão) - Menção Honrosa.


Muito obrigado, SEICHO-NO-IE! どうもありがとう , Thank you!

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O que é ser escritor?

Em uma semana, participei de vários eventos literários em três cidades: Jundiaí, Pindamonhangaba e Maringá...



        Participando da Festa Literária de Maringá, minha primeira palestra foi sobre “O processo criativo”. Foi um assunto leve, assim como é o ato da criação literária. No dia seguinte, falei sobre a “Produção literária”. Foi então que o assunto se tornou denso. Afinal, comparei o ato da criação literária ao amor, ao êxtase. E o que seria a produção literária? Seria o parto e suas dores, seria carregar um filho pelo mundo até que ele fosse capaz de caminhar por si só. Portanto, seria fácil escrever, difícil seria dar vida ao texto em uma publicação.
          Tomei por base a minha experiência pessoal, as dificuldades da primeira edição, as frustrações de tentar vender os meus primeiros livros. Por muitas vezes, sentimos vergonha de vender aquilo que produzimos. Por outras, achamos até incorreto, afinal, quem vende um filho? Falo isso no caso da autopublicação, que nada mais é do que pagar para ser publicado. Aí, falei do peso do sonho.
          Para a minha palestra em Pindamonhangaba, saí de casa às quatro da manhã, carregando 200 livros. O carrinho com os exemplares quebrou já no atravessar da primeira avenida, antes de tomar o meu primeiro de três ônibus urbanos e dois intermunicipais, em uma viagem de cinco horas. Eis o peso do sonho: carregar o peso de 200 livros como se carrega um bebê.




          Quando falei sobre isso, queria que as pessoas tivessem a consciência de que não é fácil realizar um sonho. Que é preciso esforço. Em meu último evento na FLIM, uma mesa literária com o grande escritor Roberto Torero, uma fila se formou ao final, com leitores esperando por um autógrafo dele. É essa a imagem que muitos sonhadores têm de um escritor. Mas não é sempre assim. A realidade da maioria dos escritores é uma mesa repleta de livros, mas quase ninguém para comprá-los. Em meu primeiro evento de lançamento, vendi 108 livros e fiquei exultante. Sucesso! Só depois é que percebi que destes 108 livros, apenas um havia sido vendido a uma pessoa que eu não conhecia. Cento e sete livros foram vendidos para familiares e amigos. Por outro lado, ao realizar o lançamento do mesmo livro em uma cidade na qual não tinha família ou amigos, vendi apenas dois exemplares. E os dois foram vendidos a um amigo que, por acaso, estava lá.
          Expus em minha palestra que se alguém tinha o sonho de ser escritor, que ele deveria estar preparado para suar, para carregar livros, para não se abater com o fracasso de vendas inicial, para não ter vergonha de vender o seu livro. De acreditar nele. Critiquei as antologias cooperativadas de concursos literários que premiam o autor com o direito de pagar algumas centenas de reais para ter uma ou duas páginas no livro. Acabei sendo duro com autores que pagam para serem publicados, assim como eu havia feito no passado.
          Foi então que, ao final da palestra, a escritora Jeanette De Cnop me fez uma pergunta que me fez refletir: “Mas será que você não está levando muito a ferro e fogo?”...
          Sim, eu estava. Ela disse que um escritor pode escrever e trabalhar com outra coisa também. Eu estava até sendo arrogante, pois mesmo inconscientemente, eu me incluía no grupo que vê a vida de um escritor apenas como a de alguém como o Torero, vencedor do Jabuti. Então, escritor seria apenas aquele que vive do que recebe com sua escrita? Será que ser escritor é isso? A opção de viver exclusivamente da minha escrita era minha, e com ela, todas as privações ligadas a esta escolha, como viver frugalmente, pois os ganhos são escassos.



          Durante a FLIM, vi escritores maravilhosos, que batalhavam a venda de seus livros. Quando comprei um livro da escritora Eliana Jimenez, ela não queria pegar o meu dinheiro. E só se sentiu melhor quando comprou um livro meu. E assim comprei livros das escritoras Marilza Conceição e Adriana Zanetta, que compraram os meus também. Comprei algumas coletâneas da Academia de Letras de Maringá, e a Sumiko, esposa do acadêmico Jaime Vieira estendeu o dinheiro para que eu não tirasse um centavo do meu bolso! Aí, dei um livro meu de presente a ela. Depois, a coisa foi para o escambo mesmo, e troquei livros com os escritores Benevides Garcia, Carlos Brunno e a família Rogério (um livro de poesia coletivo, feito por uma família!). Além de escritores, eles eram professores, advogados ou aposentados, que duramente trabalharam por toda a vida nos mais diversos ofícios. Escreviam não por dinheiro, mas por algo maior. Por fim, após dar um livro meu para o Torero, até ele gentilmente me deu um livro dele de presente. Aliás, Torero ainda é jornalista, roteirista e cineasta.
          Minha palestra foi dura. Sei que às vezes é preciso ouvir certas coisas, mas aquele não era o momento. Nem todos ali queriam ser escritores que vivem exclusivamente da escrita, como eu. Muitos só queriam escrever. E aí é que me toquei. Produção literária não é publicação e impressão de livro. Errei feio. Produção literária é escrever belos textos e não a produção de um produto para venda. Aos participantes, peço desculpas pelo meu grande equívoco. 
          Voltando ao peso dos meus livros carregados para a ETEC de Pindamonhangaba, todos os exemplares foram comprados pelos alunos, professores e funcionários, sendo o dinheiro arrecadado integralmente destinado ao GRENDACC (Grupo em Defesa da Criança com Câncer). Os livros eram da primeira tiragem, que havia sido financiada pela Secretaria de Cultura de Jundiaí, em um projeto parcialmente destinado para isso. Então, não ganhei nada com aquela venda? Ganhei sim, imensamente. Afinal, quando fazemos nosso trabalho com amor, recebemos amor. Fui lindamente recebido por todos da escola, sentindo um carinho que fez com que todo o peso do mundo não significasse nada. Eis a leveza do sonho realizado. E assim também foi em minha palestra durante a Semana de Cultura e Línguas Estrangeiras, promovida pelo Centro Municipal de Línguas em Jundiaí, quando além do carinho, ganhei uma caneca de presente, na qual sorvo um revigorante chocolate enquanto escrevo este relato.


          Assim como há médicos que são voluntários por um período e nada ganham, por amor à medicina... Assim como há pessoas que doam um pouco do seu trabalho e nada recebem por suas causas beneficentes, assim também podem ser os escritores, que não precisam apenas de dinheiro para executarem o seu ofício literário. Afinal, ser escritor não é aquele que vive com o que ganha pela sua escrita, como eu pensava. O dinheiro pode vir da venda dos livros ou de qualquer outra coisa. Enfim, aprendi que ser escritor não é viver de literatura, mas viver por amor a ela.  





Como escreveu o grande A. A. de Assis, Patrono da FLIM:

“Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem”.



Muito obrigado a todos da Escola ETEC João Gomes de Araújo, do Centro de Línguas Antonio Houaiss, da Secretaria de Cultura e Prefeitura de Maringá, da Academia de Letras de Maringá, enfim, obrigado a todos pelo carinho! Encontros como esses desta semana é que fazem valer a pena a vida de um escritor.